domingo, 15 de agosto de 2010

Mensagem contra Uribe chega ao IV FSA

 por Rita Freire

A carta endereçada a participantes do IV Fórum Social das Américas e também à Assembléia dos Movimentos Sociais foi lida na manhã deste domingo pela feminista Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres, sob aplausos de representantes de organizações de todo continente. Trata-se de uma mensagem enviada por organizações da Palestina ocupada, que não puderam chegar a Assunção, Paraguai, mas que tiveram sua participação remota no encontro por meio da carta, denunciando e pedindo solidariedade latino-americana contra a participação do ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, no Comitê designado pela ONU para investigar os ataques israelenses contra a Flotilla de Gaza.
"Massacres, desaparecimentos forçados, refugiados internos e outros graves crimes internacionais foram documentados pelas mesmas Nações Unidas na Colombia presidida por Uribe", diz a nota.
As organizações pedem que entidades participantes do Fórum de Assunção denunciem o Comitê da ONU, lutem contra o apartheid imposto por Israel à Palestina e se somem aos movimentos que defendem boicote, desinvestimento e sanções contra a Israel até que a ocupação da Palestina tenha fim.
Esta não é a primeira vez que as organizações da Palestina ocupada encontram maneiras de romper distâncias e limitações e participam de modo remoto de eventos do Fórum Social Mundial.
Em janeiro, o dirigente da organização Stop the Wall, Jamal Juma, convidado para o Seminário sobre os 10 Anos do FSM, em Porto Alegre, não pode estar presente porque foi preso por Israel e libertado apenas às vésperas do evento, após muita pressão internacional.
Por meio de internet e conexão audiovisual, o convidado se fez presente através de um telão que transmitiu sua mensagem ao FSM.
Em Maio, na Cidade do México, participantes que chegaram ao Fórum Social Temático e ao Encontro do Conselho Internacional do FSM, se reuniram com ativistas da Palestina através do programa México Expandida, também com uso de recursos audiovisuais e internet.
O Fórum Mundial de Educação na Palestina, programado para acontecer de 28 a 31 de Outubro, será mais um importante momento para romper distâncias e o silêncio imposto à Palestina por meio da ocupação. Será realizado simultaneamente em Ramallah, Haifa, Gaza, Jerusalém e também em Beirute, no Líbano. E está prevista a participação à distância de organizações que tentarão conectar suas atividades através da programação da Palestina Expandida.

A seguir leia a carta em espanhol e inglês

CANÇÃO EM HOMENAGEM À FRATERNIDADE E À AMIZADE! A VIOLÊNCIA JAMAIS VENCERÁ!

Valdecy Alves no seu excelente blog 


Ludwig Van Beethoven é um dos maiores compositores de todos os tempos. Sua criação é monumental. Sua obra-prima é a Nona Sinfonia, que também é uma das mais belas obras produzidas pela humanidade. O quarto movimento, inspirado por um belíssimo poema de um grande poeta alemão chamado Friederich Von Schiller é um verdadeiro hino à fraternidade entre os homens e entre os povos. Uma afirmação da vida, da sociedade humana, do otimismo, do sonho... uma passarela que conduz à certeza que a beleza existe, a harmonia produzindo em quem ouve um sentimento de que todo sonho, a construção do paraíso sonhado, e à certeza que todo utopia é possível.

Sinta através da música, cantada por Nana Mouskouri, tendo como cenário Atenas,  na Grécia,   vibrar em você o idealista e o sonhador que pode estar um pouco extenuado, pessimista, mas que não está morto. E no sonhador mais ferrenho haverá de duplicar a energia do seu sonhar. Abaixo o vídeo, um pouco além a letra em português do belo poema inspirador. PARA OUVIR, SENTIR, ACREDITAR NA UTOPIA E JAMAIS DESISTIR DE SONHAR! Algo igual só no movimento das galáxias, no despertar da primavera, na dança dos elétrons, na beleza feminina, na constância das ondas do mar... EIS O BELÍSSIMO POEMA DE SCHILLER:


Ode à Alegria
(An Die Freude)

Oh amigos, mudemos o som!
Entoemos algo mais prazeroso
E alegre!
Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios pelo fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Mesmo aquele que conquistou apenas uma alma,
Uma única alma em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Da alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.

Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim para se erguer diante de Deus!
Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Exultantes como o herói diante da vitória.
Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios pelo fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Enviem um beijo ao mundo todo!
Mundo, você sente a presença do seu Criador?
Pois milhões se abatem diante dele!
Abracem-se milhões!
Porque Irmãos, além do céu estrelado
Deve haver um Pai Amado!

sábado, 14 de agosto de 2010

Mulheres contra a militarização



Encontro Internacional de Mulheres e Povos das Américas contra a Militarização

 Cristóvam Feil no Diario Gauche

A expectativa é que mais de mil mulheres e homens de movimentos populares e organizações sociais e políticas da América Latina debatam estratégias de ações contra a militarização e a presença de tropas estrangeiras na região. O encontro ocorre em um momento crucial dada conjuntura política e militar latino-americana.

Golpe de Estado em Honduras, ocupação militar no Haiti e instalação de bases militares estadunidenses na Colômbia e no Panamá são apenas alguns exemplos do avanço da investida dos Estados Unidos na região. O país escolhido para ser sede do Encontro contra a Militarização também não poderia ser melhor: Colômbia, Estado que, em 2009, assinou um Acordo de Defesa e Segurança com o país norte-americano.

"Além disso, o encontro se desenvolve em um país cujo governo mantém uma história de 40 anos de cooperação militar com os Estados Unidos que - sob o sofisma da luta contra as drogas, o narcotráfico e o terrorismo que foi desculpa para a perseguição e estigmatização do protesto social - oculta os verdadeiros interesses econômicos por trás do conflito na Colômbia: a manutenção do controle de seus recursos naturais, territórios e do povo", acrescentou a convocatória divulgada no início deste mês.

A crescente militarização na América Latina tem afetado a soberania dos povos com deslocamentos forçados, violações aos direitos humanos e exploração de recursos naturais. As mulheres são as principais vítimas dessa situação. Isso porque, com o aumento de militares em um território, aumenta também o machismo, a prostituição e a violência sexual contra as mulheres.

"Historicamente as bases militares têm servido para invadir territórios estratégicos por sua localização geopolítica e as riquezas naturais que muitas vezes se encontram nos povos milenários, afrodescendentes e camponeses. Estas bases militares também promovem a prostituição com a regulação de casas oficiais que servem como ‘entretenimento’ aos soldados, mas, para as mulheres, representem escravidão sexual e outros tipos de violência, como os feminicídios", explicaram as organizações de mulheres em comunicado de julho passado.

O Encontro Internacional de Mulheres e Povos das Américas contra a Militarização será divido em três momentos. No primeiro, de 16 a 20 de agosto, uma missão humanitária de solidariedade e resistência visitará diversas regiões na Colômbia para observar os efeitos da militarização.

O Encontro Internacional propriamente dito começará no dia 21, na cidade de Barrancabermeja, Santander, com debates e trocas de experiências entre os movimentos sociais. Na tarde do dia 22, os participantes apresentarão a declaração final do encontro e a agenda de trabalho para a desmilitarização do continente. O encerramento das atividades será no dia 23, com uma Vigília pela Vida.

As mobilizações não se restringirão à Colômbia. Organizações e movimentos sociais estão convidados a realizar, em vários países, uma Jornada Internacional de Solidariedade às Mulheres e aos Povos da Colômbia e das Américas que lutam contra a Militarização.

A ideia é chamar atenção da sociedade sobre o avanço da militarização na América Latina. Para isso, os grupos interessados em participar podem fazer atividades como: vigílias e atos em frente a consulados e representações da Colômbia e dos Estados Unidos, panfletagens, seminários, ações de rua e reuniões com parlamentares. A informação é do portal Adital.

Mais informações aqui.

Pesos e medidas



Mutáveis os da mídia nativa, certa de que nós da plateia não passamos de um bando de idiotas. Por Mino Carta

Não há semelhança possível entre um estúdio de tevê e um ringue. Pelo menos não havia até poucos dias atrás. A gravação de uma entrevista na TV 5, filiada à Rede Bandeirantes em Rio Branco, acabou em vale-tudo entre o entrevistador, o jornalista Demóstenes Nascimento, e o entrevistado, candidato ao Senado pelo Acre, o emedebista João Correia. De categoria nitidamente superior, Demóstenes pareceu mais talhado para catch-as-you-catch-can e ganhou a luta com bom aproveitamento tanto nos socos quanto nos pontapés. Empate em matéria de insultos e palavrões.
O entrevistado farejou certa agressividade em uma pergunta sobre segurança pública e reagiu com acusações ao atual governo acriano. O entrevistador negou-lhe condições morais para manifestar-se ao apontá-lo como envolvido em certo escândalo. O candidato ergueu-se de sua poltrona aos gritos de “lacaio, vendido”. Partiram para a briga e a célebre turma-do-deixa-disso demorou para entrar em ação.
Correia sofreu escoriações no rosto e no joelho direito e lesão no tendão do dedo anular, também direito. Trata-se de um lutador comprovadamente destro. Mas o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Acre e a Federação Nacional divulgaram uma nota para verberar “a atitude covarde e agressiva” do entrevistado. Nada como a eterna vigilância dos paladinos da liberdade de imprensa, mesmo quando participam de refregas desiguais, representados por pesos-pesados chamados a enfrentar moscas ou galos.
A luta de Rio Branco é um episódio novo na nossa história das campanhas eleitorais, mesmo porque, salvo melhor juízo, os candidatos entrevistados não pulam corda ou socam o punching ball antes de qualquer entrevista. Para revidar às perguntas que não são do seu gosto, o candidato José Serra adota uma linha de refinado senso de humor. Anota a repórter Juliana Cipriani, de O Estado de Minas, que Serra “parece ter dificuldade em entender o que dizem os brasileiros ou inventou uma nova estratégia para evitar responder às perguntas que não o agradam”.
Em meados de julho passado, em Pernambuco, o repórter de um jornal local dirigiu-lhe uma pergunta sobre o trem-bala destinado a ligar São Paulo ao Rio: obra feita ou tiro de festim? A pergunta deveria ser do seu gosto, pois o candidato é contrário ao projeto. Surpresa. “Não entendi, foi muito sotaque”, decretou Serra. Em Minas, quando um jornalista o questionou sobre recente entrevista de Lula em que o presidente lamenta-lhe a falta de sorte ao enfrentá-lo em 2002 e agora diante de Dilma Rousseff, Serra escandiu: “Esta fala mineira de vocês eu não entendo”.
O candidato tucano consegue, porém, ser mais cordato, a depender das situações. Lá pelas tantas desta tertúlia eleitoral, o repórter Fábio Turci dirige a Serra uma pergunta sobre juros. O perguntado não esconde sua irritação, e indaga com a devida veemência: “De onde você é?” Turci esclarece ser da Globo. E Serra, de pronto: “Ah, então desculpe”. Tucano não voa, mas sabe onde pisa.
Na noite de 11 de agosto coube a ele ser sabatinado por 12 minutos pelo casal JN, William Bonner e Fátima Bernardes, os sorrisos mais radiosos do Brasil. Antes, a oportunidade foi bondosamente oferecida às candidatas Dilma Rousseff, segunda 9, e Marina Silva, terça 10. Para ambas, um sufoco. As perguntas do locutor que considera Homer Simpson como telespectador ideal foram muito mais esticadas que as respostas, quando estas não foram furibundamente atropeladas.
No caso de Dilma, o propósito foi mostrar (ingenuamente?) que ela é ao mesmo tempo uma marionete na mão de Lula e personagem dura, prepotente, mandona. De sorte a suscitar a observação da entrevistada, mais ou menos do seguinte teor: então, como vocês me querem, como títere do titereiro ou como a ministra inflexível que chama às falas os colegas de gabinete? Na vez de Marina, o intuito foi outro: provar que ela saiu do governo por discordâncias sobre a política ambiental enquanto, tempos antes, não se incomodou com o mensalão, o escândalo pretendido e até hoje não provado. A certa altura, a ex-ministra teve de reagir com alguma, insólita veemência, para pedir que a deixassem concluir o raciocínio.
Com Serra, na quarta 11, tudo mudou. O casal JN deixou o candidato falar à vontade. E quando a entrevista pretendeu chegar ao ponto de fervura, a pergunta foi: o senhor não se sente constrangido de ter o apoio do PTB, partido metido no escândalo do mensalão petista? Nada do mensalão mineiro nem do escândalo do DEM em Brasília. Maluf e Quércia? Esquecidos. E os votos comprados para a reeleição de FHC?
Segundo momento de aperto. Pergunta a evocar os usuários que reclamam dos preços altos do pedágio em São Paulo. Serra ganha a oportunidade de falar mal das estradas federais. Aí Bonner acrescenta: não existe um meio-termo, só dá para ter estradas boas e caras ou ruins e baratas? Serra emenda, feliz, que na última concessão que fez, os preços do pedágio caíram pela metade. Omitiu que os postos de cobrança foram dobrados e ao cabo cita sua origem humilde, estudante de escola pública etc. etc. Só falta chorar.
A rapaziada não se dá ao respeito. Quem sabe haja quem se incomoda ao perceber que nos enxergam como malta de idiotas. Esta visão da plateia é própria, aliás, dos jornalistas nativos e seus patrões. Será que não usam na medição o metro recomendável para medir a si mesmos?

Mino Carta

Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redação@cartacapital.com.br

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Nicarágua: saúde gratuita e de qualidade para todos




Manágua, (Prensa Latina) 

Em aproximadamente três anos e meio, a atenção sanitária na Nicarágua deixou de ser uma prática elitista e controlada pelas regras do mercado, e se converteu em uma prioridade governamental e um direito de toda a população. Os avanços conseguidos neste campo desde que os sandinistas assumiram pela segunda vez o governo desta nação centro-americana, em janeiro de 2007, são enormes e respondem a uma política de Estado concebida a partir do critério de que a saúde é um direito fundamental de toda a população e é uma obrigação governamental brindar uma atenção de qualidade, de maneira eficiente e gratuita.

Depois de 17 anos de governos neoliberais (1990-2006), uma das primeiras decisões adotadas pelo presidente Daniel Ortega foi decretar a gratuidade da atenção médica em hospitais e centros de saúde, incluindo os exames de laboratórios e com equipes de alta tecnologia, que depois se estendeu aos medicamentos prescritos nessas unidades.

Essa medida possibilitou o acesso à atenção médica de grande parte da população nicaragüense, sobretudo a de menores rendimentos, até então impedida de pagar os altos custos de hospitais privados e inclusive públicos.

Por exemplo, no Centro Nacional de Cardiologia realizaram-se, em 2007, 2.898 eletrocardiogramas, mas a cifra subiu a 7.932 em 2009 e só durante o primeiro semestre deste ano se reportaram 4.500.

Há três anos, os nicaragüenses deviam pagar por um eletrocardiograma o equivalente a uns 30 dólares por exame, mas desde 2007 realizam-se gratuitamente em todos os hospitais públicos e centros assistenciais controlados pelo Ministério de Saúde (Minsa).

Mas de pouco serve a gratuidade da atenção médica se são escassos os centros assistenciais e os que existem não dispõem de recursos humanos e técnicos necessários.

Concentrada principalmente em Manágua e em algumas outras cidades, a infra-estrutura de saúde pública que encontrou o governo sandinista em 2007 estava marcada pela corrupção e pelo abandono de três administrações neoliberais precedentes.

Não existiam máquinas de hemodiálise em nenhum dos hospitais públicos do país, e muito menos equipes para realizar tomografias, ressonâncias magnéticas, ecocardiogramas e outros exames especializados.

Tudo isso começou a mudar rapidamente, graças a importantes e sustentados investimentos governamentais e à ajuda brindada pelos países da Aliança Bolivariana dos Povos de Nossa América (ALBA), principalmente de Cuba e Venezuela.

A infra-estrutura
Em três anos e meio, foram consertados e acondicionados dezenas de hospitais e centros de saúde em todo o país e se construíram outros, principalmente em zonas do interior onde praticamente nunca antes houve atenção médica à população.

Na primeira semana de julho e em comemoração ao XXXI aniversário do triunfo da Revolução Sandinista, a ministra de Saúde, Sonia Castro, anunciou a inauguração, no mês, de 15 novas unidades sanitárias, entre elas quatro hospitais primários.

Há uma melhora na infra-estrutura e pouco a pouco estamos investindo num modelo de saúde que encontramos fracassado; sabemos que as necessidades são grandes, mas vamos avançando, disse a titular do Minsa.

Na aplicação de sua política sanitária, o governo sandinista tem outorgado a prioridade à prevenção e a partir desse conceito intensificou-se a atenção às grávidas e multiplicam-se os programas de vacinação, sobretudo à população infantil, o que permitiu eliminar ou reduzir a incidência de doenças como a poliomielite, o tétano neonatal, o sarampo, a rubéola e outras. Ao mesmo tempo trabalhou-se intensamente na formação de novos médicos, pessoal de enfermaria e técnicos da saúde, com vocação de serviço solidário e humanista, alheia a conceitos mercantilistas.

Ao pujante movimento de médicos sandinistas que se move por todo o país, unem-se pouco a pouco os graduados das universidades locais, bem como os mais de mil jovens que a Nicarágua enviou à Escola Latino-americana de Medicina (ELAM) de Havana, e os mais de 200 que estudam na Venezuela.

O esforço realizado ao longo de mais de três anos possibilitou que, no final de maio, o representante permanente na Nicarágua da Organização Panamericana de Saúde (OPS), Jorge Luis Prósperi, destacasse as conquistas do governo sandinista em matéria de saúde.

Nicarágua é um dos países com mais alta cobertura de vacinação no continente, disse o servidor público, e acrescentou que nem na América do Sul nem na Central atingem-se cifras acima de 95 por cento na maioria das vacinas como na Nicarágua e isso só se consegue com um compromisso político muito forte do governo.

A julgamento de Prósperi, as limitações são basicamente financeiras, mas para chegar a essa meta conta-se com uma forte política sanitária e o país tem um plano de saúde e um modelo de organização dos sistemas sanitários locais que são exemplos para a América.

A colaboração cubana
A colaboração cubana neste esforço é notável. A brigada Ernesto Che Guevara, integrada por uns 180 especialistas, opera em dois hospitais, um no município Muelle de los Bueyes, na Região Autônoma do Atlântico Sul (RAAS), e outro em Waspán, na Região Autônoma do Atlântico Norte (RAAN), zonas de assentamento tradicional dos povos originários.

O pessoal médico da Che Guevara está presente também nos departamentos de Matagalpa e Rio San Juan, e seus técnicos operam as equipes vindas da Venezuela para o Centro de Alta Tecnologia do capitalino hospital Lenin Fonseca.

Também integram essa brigada os 45 médicos e técnicos que operam os quatro hospitais oftalmológicos criados na Nicarágua como parte da Operação Milagro, instalados em Cidade Sandino, Matagalpa, Bluefields e Puerto Cabezas, onde, em conjunto realizaram-se até agora mais de 67 mil operações cirúrgicas em pessoas com problemas visuais.

A maior parte dessas operações foi realizada em pessoas afetadas por cataratas ou pterigium e foi totalmente gratuita, algo muito importante se se tiver em conta que uma operação desse tipo custa em um hospital privado da Nicarágua em torno de 900 dólares.

Outra colaboração cubana de grande impacto social é a que protagonizam os 64 especialistas e técnicos da Ilha que integram a Brigada Todos com Voz, que desde outubro de 2009 realiza o Estudo Psico-social, Pedagógico e Clínico-Genético das Pessoas com Incapacidades em todos os departamentos da Nicarágua.

Essa brigada, integrada também por 25 médicos nicaragüenses, completou já esses estudos em Masaya, Matagalpa, Chinandega, Managua, León, Jinotega, Nueva Segovia, Estelí e a princípios de julho estava a ponto de terminar em Chontales.

Até o dia 6 desse mês tinham estudado um total de 88.419 pessoas com diversos tipos de incapacidades, para o que visitaram mais de 131 mil moradias.

Esses estudos permitem registrar informação que antes não existia sobre as pessoas incapacitadas, o que possibilita ao governo elaborar e aplicar programas de atenção para melhorar a qualidade de vida desse vulnerável setor da população.

(*) O autor é co-responsável da Prensa Latina na Nicarágua.

A tendência à barbárie e as perspectivas do socialismo

  James Petras  no Correio da Cidadania   
 
As sociedades ocidentais e os Estados estão se deslocando inexoravelmente para condições semelhantes à barbárie; mudanças estruturais estão revertendo décadas de bem estar social e sujeitando o trabalho, os recursos naturais e as riquezas das nações à exploração bruta, à pilhagem e ao saque, rebaixando os padrões de vida e causando descontentamento num nível sem precedentes.
 
Inicialmente, descreveremos os processos econômicos, políticos e militares que vêm abrindo este caminho à decadência e à decomposição social, e a seguir mostraremos a reação das massas populares à deterioração de suas condições de vida. As profundas mudanças estruturais que acompanham a ascensão da barbárie constituirão a base para considerar as perspectivas para o socialismo no século XXI.
 
A crescente onda de barbárie
 
Nas sociedades antigas, a "barbárie" e os seus portadores – os "bárbaros" invasores – foram vistos como uma ameaça vinda das regiões periféricas de Roma ou Atenas. Nas sociedades ocidentais contemporâneas, os bárbaros vêm de dentro, da elite, com a intenção de impor uma nova ordem que corrói o tecido social e a base produtiva da sociedade, convertendo meios de subsistência estáveis em condições deterioradas e inseguras da vida cotidiana.
 
A chave para a barbárie contemporânea encontra-se nas estruturas internas do Estado imperial e da economia. Estas incluem:
 
1. A ascensão de uma elite financeira e especulativa, que tem saqueado trilhões de dólares dos poupadores, investidores, mutuários, consumidores e do Estado, subtraindo enormes recursos da economia produtiva e colocando-os nas mãos da camada parasitária aninhada no Estado e nos mercados financeiros.
 
2. A elite política militarista, que vem supervisionando um estado de guerra permanente desde meados do século passado. Terror de Estado, guerras intermináveis, assassinatos em zonas fronteiriças e a suspensão das garantias constitucionais tradicionais levaram à concentração de poderes ditatoriais, prisões arbitrárias, torturas e à negação do habeas corpus.
 
3. Em meio a uma profunda recessão econômica e estagnação, os altos gastos do Estado na construção de um império econômico e militar, às expensas da economia nacional e dos padrões de vida, refletem a subordinação da economia local às atividades do Estado imperial.
 
4. A corrupção desde o topo, visível em todos os aspectos da atividade do Estado - desde as aquisições de bens e serviços até a privatização e os subsídios para os super-ricos –, incentiva o crescimento do crime internacional de cima para baixo, a lumpenização da classe capitalista e um Estado onde a lei e a ordem se encontram em descrédito.
 
5. Resultantes dos elevados custos de construção do império e da pilhagem da oligarquia financeira, os encargos sócio-econômicos recaem diretamente sobre os ombros dos trabalhadores assalariados, aposentados e trabalhadores por conta própria, determinando uma grande mobilidade descendente na escala social ao longo do tempo. Com a perda de empregos e o desaparecimento das posições mais bem remuneradas, as retomadas de casas pelos bancos crescem exponencialmente e as classes médias, antes estáveis, encolhem, e os trabalhadores são forçados a alongar suas jornadas de trabalho diárias e a trabalhar durante um maior número de anos.
 
6. As guerras imperiais, que se espalham pelo mundo e são direcionadas a populações inteiras, que sofrem com os bombardeios e as operações clandestinas de terror, geram, em oposição, redes terroristas, que também atingem alvos civis nos mercados, transportes e espaços públicos. O mundo vai se parecendo ao pesadelo hobbesiano de "todos contra todos".
 
7. Um crescente extremismo etno-religioso ligado ao militarismo é encontrado entre os cristãos, judeus, muçulmanos e hindus, que substitui a solidariedade de classe internacional por doutrinas de supremacia racial e penetra as estruturas profundas dos Estados e das sociedades.
 
8.  O desaparecimento dos Estados europeus e asiáticos de bem-estar social coletivo – nomeadamente, a ex-URSS e a China – levantou as pressões competitivas sobre o capitalismo ocidental e o encorajou à revogação de todas as concessões de bem-estar social obtidas pela classe trabalhadora no período pós-II Guerra Mundial.
 
9. O fim do "comunismo" e a integração da social-democracia ao sistema capitalista levaram a um enfraquecimento severo da esquerda, que os protestos esporádicos dos movimentos sociais não conseguiram substituir.
 
10. Diante do atual assalto às condições de vida dos trabalhadores e da classe média, só se vêem protestos esporádicos, no melhor dos casos, e impotência política, no pior.
 
11. A exploração maciça do trabalho nas sociedades capitalistas pós-revolucionárias, como a China e o Vietnã, compreende a exclusão de centenas de milhões de trabalhadores migrantes dos serviços públicos elementares de educação e saúde. A pilhagem sem precedentes e a captura, por oligarquias nacionais e multinacionais estrangeiras, de milhares de lucrativas empresas públicas estratégicas da Rússia, das repúblicas da ex-União Soviética, dos países da Europa Oriental, dos Bálcãs e dos países bálticos, foram a maior transferência de riqueza pública para mãos privadas, em curto espaço de tempo, em toda a História.
 
Em resumo, a barbárie surgiu como uma realidade definida, produto da ascensão de uma classe dominante financeira parasitária e militarista. Os bárbaros encontram-se aqui e agora, presentes dentro das fronteiras das sociedades ocidentais e seus Estados. Eles governam e perseguem agressivamente uma agenda que está continuamente a reduzir os padrões de vida, a transferir a riqueza pública para os seus cofres privados, a pilhar recursos públicos, a violar direitos constitucionais no exercício de suas guerras imperiais, a segregar e perseguir milhões de trabalhadores imigrantes e a promover a desintegração e o desaparecimento do trabalho estável e de classe média. Mais do que em qualquer outro momento na história recente, o 1% mais rico da população controla uma parcela crescente das riquezas e das rendas nacionais.
 
Mitos e realidades do capitalismo histórico
 
A retirada, em grande escala e de forma sustentada, dos direitos sociais e previdenciários, da segurança no emprego, e as reduções de salários e aposentadorias, demonstram a falsidade da idéia do progresso linear do capitalismo. Essa reversão, produto do poder ampliado da classe capitalista, demonstra a validade da proposição marxista de que a luta de classes é o motor da História – na medida em que, pelo menos, a própria condição humana é considerada como sua peça central.
 
A segunda premissa falsa – a de que os Estados organizados em "economias de mercado" têm como pré-requisito a paz, tendo como corolário a ascendência dos "mercados" sobre o militarismo – é refutada pelo fato de que a principal economia de mercado – os Estados Unidos – tem permanecido em constante estado de guerra desde o início da década de 1940, estando ativamente engajada em guerras em quatro continentes, até os dias de hoje, e com perspectiva de novas, maiores e mais sangrentas guerras no horizonte. A causa e conseqüência da guerra permanente é o crescimento de um monstruoso "Estado de segurança nacional" que não reconhece fronteiras nacionais e absorve a maior parte do Orçamento do país.
 
O terceiro mito do "capitalismo avançado maduro" é o de que este sempre revoluciona a produção através da inovação e da tecnologia. Com a ascensão da elite financeira especulativa e militarista, as forças produtivas foram saqueadas e a "inovação" é em grande parte direcionada à elaboração de instrumentos financeiros que exploram os investidores, reduzem os ativos e acabam com o trabalho produtivo.
 
Enquanto o império cresce, a economia local se contrai, o poder está centralizado no Executivo, o poder legislativo é reduzido e aos cidadãos é negada uma representação efetiva, ou mesmo o poder de veto através de processos eleitorais.
 
A resposta das massas ao aumento da barbárie
 
A ascensão da barbárie em nosso meio tem provocado revolta pública contra seus principais executores. As pesquisas de opinião têm reiteradamente encontrado:
 
(1) Profunda aversão e revolta contra todos os partidos políticos.
 
(2) Grande desconfiança, nutrida pela maioria da população, contra a elite empresarial e política.
 
(3) Rejeição, também pela maioria, da concentração de poder corporativo e do seu abuso, principalmente por parte dos banqueiros e financistas.
 
(4) Questionamento amplo das credenciais democráticas dos líderes políticos que agem a mando da elite empresarial e promovem as políticas repressivas do Estado de segurança nacional.
 
(5) Rejeição, pela grande maioria da população, da pilhagem do Tesouro nacional para salvação dos bancos e da elite financeira, com a imposição de programas de austeridade regressivos sobre a classe média trabalhadora.
 
Perspectivas para o socialismo
 
A ofensiva capitalista teve certamente um grande impacto sobre as condições objetivas e subjetivas da classe média trabalhadora, empobrecendo- a e provocando uma onda crescente de descontentamento pessoal, que ainda não se traduziu numa movimentação anticapitalista massiva, ou mesmo numa resistência dinâmica e organizada.
 
As grandes mudanças estruturais requerem um melhor entendimento das atuais circunstâncias adversas e a identificação de novas instâncias e meios onde se desenvolvem a luta de classes e de transformação social.
 
Um problema-chave é a necessidade de se recriar uma economia produtiva e reconstruir uma classe trabalhadora industrial após anos de pilhagem financeira e desindustrialização, não necessariamente para as poluidoras indústrias do passado, mas certamente para novas indústrias que criem e utilizem fontes de energia limpa.
 
Em segundo lugar, as sociedades capitalistas altamente endividadas necessitam, fundamentalmente, sair do modelo de construção imperial militarista de alto custo em direção a um modelo de austeridade financeira baseado na classe e que imponha os sacrifícios e as reformas estruturais aos setores bancário, financeiro e comercial de grande varejo, que substitui a produção local pela importação de artigos de consumo de baixo custo.
 
Em terceiro lugar, o enxugamento do setor financeiro e do comércio retalhista exige a melhoria das qualificações dos trabalhadores que serão deslocados ou desempregados, bem como mudanças no setor de TI, de forma a acomodar as próprias mudanças econômicas. Exige, também, a mudança de um paradigma – da renda monetária para o rendimento social –, em que a educação pública e gratuita de alto nível, o acesso universal à saúde e as aposentadorias abrangentes substituirão o consumismo global financiado por dívidas. Isso pode se tornar a base para o fortalecimento da consciência de classe contra o consumismo individual.
 
Esta é a questão: como passar de uma posição em que a classe trabalhadora se encontra fragmentada e enfraquecida e os movimentos sociais em recuo ou na defensiva a uma posição em que seja possível lançar uma ofensiva anticapitalista?
 
Vários fatores subjetivos e objetivos já permitem o trabalho nesse sentido. Primeiro, há uma negatividade crescente contra a grande maioria dos atuais operadores políticos e, em particular, contra as elites econômicas e financeiras que estão claramente identificadas como responsáveis pelo declínio nos padrões de vida. Em segundo lugar, há o ponto de vista popular, compartilhado por milhões de pessoas, de que os atuais programas de austeridade são claramente injustos - com os trabalhadores a pagar pela crise que a classe capitalista produziu. Até o momento, no entanto, estas maiorias são mais "anti"-status quo do que "pró"-transformação. A transição do descontentamento privado para a ação coletiva é uma questão em aberto quanto a quem a desencadeará e como o fará, mas a oportunidade está presente.
 
Existem vários fatores objetivos que podem deflagrar uma mudança qualitativa do descontentamento, deslocando-o da raiva passiva rumo a um maciço movimento anticapitalista. Um "duplo mergulho" na recessão, o fim da atual recuperação anêmica e o início de uma recessão mais profunda e prolongada ou de uma depressão poderiam desacreditar ainda mais os governantes atuais e seus aliados econômicos.
 
Em segundo lugar, o aprofundamento interminável da austeridade poderá desacreditar a noção atual, difundida pela classe dominante, de que os sacrifícios atuais são necessários para se obterem ganhos futuros, abrindo as mentes e encorajando os corpos a se moverem à procura de soluções políticas, de forma a alcançar ganhos no presente e infligir dor às elites econômicas.
 
As inesgotáveis e "invencíveis" guerras imperiais que sangram a economia e a classe trabalhadora podem, em última análise, criar uma consciência de que a classe dominante oferece "sacrifícios" à nação sem nenhuma finalidade "útil".
 
Provavelmente, o efeito combinado de uma nova etapa da recessão, a austeridade perpétua e as estúpidas guerras imperiais acabarão por transformar o mal-estar atual e a difusa hostilidade das massas contra a elite econômica e política em favor dos movimentos socialistas, partidos e sindicatos.
 
James Petras é sociólogo, nascido em Boston, e publicou mais de sessenta livros de economia política e, no terreno da ficção, quatro coleções de contos.

Ana Amélia Lemos e a credibilidade



Por Marcelino Korst no RsUrgente

Ana Amélia Lemos passou décadas fazendo a cobertura política nos veículos de comunicação mais lidos, vistos e ouvidos do Rio Grande do Sul. Durante todo aquele tempo, sempre que qualquer dúvida se levantava sobre sua imparcialidade, a reação era imediata. Os críticos, invariavelmente, eram classificados como “patrulhas” ou “pessoas que não sabem lidar com a liberdade de imprensa”. Mas eis que Ana Amélia Lemos aparece nas páginas de política como candidata a uma vaga de Senadora pelo Partido Progressista batendo palmas para… Yeda Crusius.
O governo Yeda, e isso até os flocos de neve que decoram a Serra gaúcha sabem, é alvo de uma montanha de suspeitas de corrupção, algumas cabalmente comprovadas. Mais do que isso: até hoje Yeda mantém ao seu lado, com poder absoluto de contrastar e demitir, uma assessora que está indiciada por formação de quadrilha e corrupção; e até ontem, um Chefe de Gabinete que usou o aparelho do Estado para espionar adversários políticos e acompanhou delegados para avisar o pai de um traficante que o filho seria preso.
O governo Yeda, e disso sabem bem os trabalhadores em educação e os bancários, ordenou que a Brigada Militar disparasse balas de borracha, bombas de efeito moral e usasse cães ferozes para tentar dissolver protestos legítimos de cidadãos contra os desmandos evidentes da administração tucana.
O governo Yeda não permitiu a conclusão de uma sindicância aberta há mais de três anos para investigar o comportamento de um procurador do Estado acusado de fazer parte de uma quadrilha que roubou R$ 44 milhões do Detran.
O governo Yeda escolheu um Chefe para a Casa Civil que foi gravado pelo vice-governador confessando o loteamento de cargos do primeiro escalão para financiar partidos que, em troca, sustentaram a administração e impediram que se investigasse as responsabilidades políticas sobre as fraudes do Detran e das grandes obras.
O governo Yeda, bem… basta que se veja os altíssimos índices de rejeição da governadora mesmo quando ela despeja em obras eleitoreiras todo o dinheiro que deveria ter sido investido na educação, na saúde e da segurança do povo gaúcho…
Pois é este governo que não mais a jornalista imparcial mas a candidata Ana Amélia Lemos, aparece aplaudindo nas fotografias da campanha. Convenhamos. Cumprindo este papel, Ana Amélia não está propriamente prestando um serviço à credibilidade. Nem do jornalismo, nem da política.

Chávez não é tão feio quanto parece

  Luiz Eça - Correio da cidadania   
 
Nas últimas semanas, nossa grande mídia tem caprichado nos ataques ao general Chávez. Diariamente, sucedem-se matérias que, além das habituais críticas aos atritos com a imprensa oposicionista, anunciam uma crise terrível, que atestaria o fracasso talvez definitivo do governo venezuelano.
 
Baseiam-se em dados alarmantes. Em 2009, a inflação venezuelana foi de 25% e o crescimento de menos 3,3%, sendo que neste ano se prevê repetição do crescimento negativo e da inflação, a qual poderia chegar a 40%.
 
Os números são verdadeiros, mas, quanto à conclusão, há reparos a fazer.
 
Como se sabe, a economia da Venezuela depende, e muito, da exportação do petróleo (90% do total das exportações). Foi profundamente afetada pela recente crise mundial, que reduziu o preço do petróleo de cerca de 120 para 40 dólares o barril.

Diante dessa situação, o governo adotou uma política extremamente conservadora, tipo FMI. Ao invés de estimular os investimentos (como fez o Brasil com sucesso), tratou de cortar despesas, o que trouxe recessão. Some-se a isso uma grande seca, absolutamente sem precedentes, no país, que gerou falta de energia e graves paralisações das atividades industriais, mais uma política errada de supervalorização do bolívar (moeda local), que encareceu e reduziu as exportações, e o resultado foi crescimento negativo e aumento da inflação.
 
Apesar disso, estes dados estão longe de configurar uma crise de vastas proporções, semelhante à da Grécia.
 
De fato, enquanto os gregos gemem sob um débito público de 115% do Produto Interno Bruto, o índice do país de Chávez, em 2009, foi de apenas 19,9% - bem melhor do que o índice médio da União Européia, que chega a 79%. E esse bom estado das finanças venezuelanas garante ao governo a obtenção de empréstimos, se necessário, como aconteceu, recentemente, quando a China adiantou 20 bilhões de dólares, por conta de futuras entregas de petróleo.
 
Quanto à economia, as perspectivas de recuperação são positivas. O governo corrigiu sua política errada de contenção e volta a investir no desenvolvimento. Entre outras ações, iniciou um grande plano para aumento da geração de energia elétrica, aplicando 6 bilhões de dólares.
 
Com o fim da crise mundial, o preço do petróleo que era de 40 dólares/barril em 2009, neste ano subiu para 82 dólares, em julho. Isso dará maior fôlego para os planos de expansão da economia venezuelana. Espera-se que as previsões sombrias de crescimento negativo de 3,3% e de inflação entre 25 e 40% sejam, pelo menos, aliviadas.
 
A médio prazo, a Venezuela tem boas condições de deslanchar, voltando a apresentar taxas de crescimento semelhantes às dos 10 primeiros anos do governo Chávez, quando sua média superou 10% anuais. Recursos, parece que não faltarão. A U.S. Energy Administration projetou que os preços do petróleo deverão atingir 98 dólares/barril em 2020. Ótimo para a Venezuela, cujas reservas petrolíferas são, depois das últimas descobertas, as maiores do mundo, atingindo uma estimativa de 500 bilhões de barris. O governo Chávez, presentemente, estuda propostas de empresas estrangeiras para explorações em joint venture com o estado venezuelano.
 
Mesmo no período do segundo semestre de 2008/2009, em que o governo teve suas receitas minguadas pelos reflexos da crise mundial, a redução dos gastos não chegou à área do bem estar popular.
 
Chávez continuou aplicando 40% do orçamento (3 vezes mais do que o governo anterior) na área social.
 
Programas como construção em massa de casas populares, armazéns do povo, vendendo produtos mais baratos, expansão constante da assistência médica nas favelas e outros bairros carentes, criação acelerada de escolas na periferia – com 3 refeições para as crianças -, água tratada e saneamento básico foram levados a extensas massas populacionais.
 
Assim, contrapondo os sinistros números econômicos citados acima, o governo pôde apresentar números sociais bastante positivos.
 
O desemprego foi mantido sob controle, em 8,2%, índice muito bom se comparado com outros países da região como a Colômbia, tão elogiada pela grande mídia, que obteve 12,2% nesse índice.
 
A pobreza, que atingira 54% dos venezuelanos em 1999, início do governo Chávez, chegou a 23% em 2009, ano em que a pobreza extrema foi reduzida em 72%.
 
Ainda nesse crítico 2009, a Venezuela continuou com a melhor performance em termos de desigualdades sociais na América Latina : os 20% mais ricos detendo menos de 40% da riqueza nacional.
 
Em plena crise, o salário-mínimo continuou o mais alto da América Latina. E no mês que vem, subirá ainda mais, a 521 dólares, para recuperar o poder de compra da classe trabalhadora, afetado pela alta inflação.
 
Na Educação, com recessão e tudo, o governo não alterou os 6% do orçamento habitualmente gastos nessa área (nos países ricos, a média é 3,9%), responsáveis pelo índice de 93% da população alfabetizada – mais do que no Brasil, México e Colômbia.
 
Todos esses dados são animadores, mas não se pode subestimar a alta inflação e a recessão econômica que ainda não foram vencidas.
 
A grande mídia apontou incompetência, empreguismo e socializações desordenadas como causas da presente situação difícil. Talvez tenha alguma razão, embora haja dúvidas sobre alguns desses fatores ou pelo menos quanto às cores exageradas com que foram pintados. No entanto, ignorou os fatos positivos da realidade venezuelana e nega-se a admitir possibilidade da recuperação econômica do país de Chávez.
 
Elas, as grandes empresas jornalísticas, tão ciosas da liberdade de imprensa, deveriam lembrar que essa liberdade se justifica na medida em que seja cumprida sua missão de informar, sem omissões ou distorções. No caso de governo Chávez, passar um retrato fiel, evitando a tentação da caricatura ou de retoques que o façam ficar parecido com Frankestein.
 
Luiz Eça é jornalista.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O sorriso de Biondi

 Antonio Lassance
A Telebrás está de volta. Desde o dia 3 de agosto, ela retornou às operações. Seus antigos funcionários foram reconvocados e têm pela frente o desafio de reerguer a empresa, demonstrar a excelência do serviço público e, mais especificamente, implementar o Plano Nacional de Banda Larga.
Quando se informou que a Telebrás seria reativada, houve uma grita de algumas empresas de telefonia e um ataque feroz da mídia tradicional. Ressuscitar a estatal foi tratado como verdadeira heresia. Na crítica mais amena, um disparate.
A volta da Telebrás não apenas provocou a ira do liberalismo como representou uma derrota amarga, pois incidiu no setor que até hoje é apresentado como modelo do processo de privatização e das benesses dele decorrentes. O tratamento dado ao tema mais uma vez foi acometido de uma patologia crônica, apontada por diversos estudiosos da mídia: a falta de contextualização ou mesmo a descontextualização de um assunto.
Uma falta de contextualização primária esteve na ausência de um diagnóstico sobre o setor, que sabidamente oferece serviços caros e de péssima qualidade. Suas empresas são campeãs de reclamações de usuários e de ações junto aos órgãos de defesa do consumidor.
Outra falta de contextualização, ainda mais importante, está em que poucos se deram ao trabalho de trazer à tona a história da Telebrás e de seu processo de privatização. Lacuna curiosa, pois, afinal, a quem interessaria relembrar tal passado? Resposta: interessaria à maioria das pessoas, aos que têm e aos que não têm acesso aos serviços de telecomunicação.
Até hoje, a melhor forma de contar essa história e travar a batalha da memória contra o esquecimento é revisitar o livro de Aloysio Biondi, “O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado”. O livro teve sua primeira edição em 1999. Sua 11ª edição se encontra disponível, gentil e gratuitamente, no site da Editora Fundação Perseu Abramo: http://www2.fpa.org.br/uploads/Bras...
Biondi, como se sabe, foi um monstro sagrado do jornalismo brasileiro, grande mestre do jornalismo econômico. Faleceu há 10 anos (em julho de 2000).
“O Brasil privatizado” abria seu capítulo “As estatais: sacos sem fundo?” justamente falando da Telebrás. Biondi relembrava que, entre 1996 e 1997, a empresa teve um salto de 250% em seu lucro, desmentindo categoricamente a mensagem fabricada de que as estatais só davam prejuízo. No livro que tornou-se um clássico para a compreensão sobre o que fizeram com o Brasil nos anos 90, Biondi contextualizava que tanto os prejuízos quanto os lucros das estatais tinham sido fabricados para atender a interesses muito bem identificados.
Dizia ele: “Os prejuízos que o achatamento de tarifas e preços trouxe para as estatais teve efeitos que o consumidor conhece bem: nesses períodos, elas ficaram sem dinheiro para investir e ampliar serviços. Explicam-se, assim, as filas de espera para os telefones, ou as constantes ameaças de “apagões” no sistema de eletricidade. Ou, dito de outra forma: não é verdade que os serviços das estatais tenham se deteriorado por “incompetência”. Como também é mentira que “o Estado perdeu sua capacidade de investir”, como diz a campanha dos privatizantes. O que houve foi uma política econômica absurda, que sacrificou as estatais.” (pág. 30).
Lembrava ainda de uma decisão incrível: em 1989, um decreto do presidente da República proibia o BNDE (hoje BNDES) de realizar empréstimos a empresas estatais.
Biondi era um “antifukuyama”. Só para lembrar, Fukuyama foi um dos garotos propaganda do neoliberalismo, muito badalado durante o Governo Reagan, autor de uma tese espalhafatosa sobre o “fim da história” e da vitória do capitalismo sobre tudo e sobre todos. Hoje, se alguém fizer um Google sobre os “francis” existentes na face da Terra, Fukuyama sequer aparece nas sugestões do motor de busca. Fica atrás de Francis Bacon, Francis Ford Copola, Francisco Cuoco e Francisco Alves. Indício de que quem corre o risco de desaparecer é o próprio Fukuyama.
Enfim, Biondi desmentia a tese do fim da história, mostrando que a moda era tentar “cancelar” a história. Contextualizava a esdrúxula decisão que proibia o BNDES de financiar empresas estatais lembrando ter sido ele criado “exatamente com o objetivo de fornecer recursos para a execução de projetos de infra-estrutura, que exigem desembolso de bilhões e bilhões – e precisam de alguns anos para sua execução” (pág. 30).
A memória do texto de Biondi é mais uma vez útil a um momento em que o BNDES também se tornou alvo de ataques violentos e virulentos à gestão de Luciano Coutinho, veja só, por fazer exatamente aquilo para o qual o banco existe: levantar investimentos e fazer financiamentos.
Biondi também usou o exemplo da Telebrás para relembrar uma diferença básica do setor público em relação ao privado: além de prestar serviços, as estatais deveriam ser utilizadas com o objetivo de justiça social. Tais empresas não têm como objetivo fundamental o lucro, nem têm como sina acumular prejuízos. Seu objetivo fundamental é garantir o atendimento à população em serviços essenciais. O fato de que muitas vezes acumularam prejuízos, além das malversações que acompanharam algumas de suas gestões, decorria das condições de desigualdade do país. A pobreza criava um obstáculo sério ao modelo de negócio de muitas estatais. Milhões de brasileiros excluídos do mercado interno de massas por um modelo de desenvolvimento excludente não tinham como contratar serviços em níveis que garantissem a rentabilidade de certas empresas estatais.
Por isso, na atual situação do país, de expansão acelerada do mercado interno de massas, de ascensão de um contingente expressivo de pessoas à classe média e da tendência de crescimento da economia, do emprego e da renda dos brasileiros, o discurso contra as estatais está obsoleto. É como o relógio quebrado que homenageia a nostalgia e a ostentação, mas é incapaz de fornecer uma informação correta.
As estatais, diante do novo quadro econômico, já podem se dar ao luxo de serem extremamente lucrativas. Mas estão longe de constituir uma ameaça ao setor privado. Elas podem atuar em atividades nas quais empresas privadas têm demonstrado dificuldades crônicas em dar conta do recado ou, como no caso da Petrobrás, podem funcionar como grandes alavancas do crescimento econômico, responsáveis por irrigar inúmeras cadeias produtivas que sequer existiam, ou que tinham sido desativadas.
Passados dez anos desde que perdemos Aloysio Biondi, tem-se a exata dimensão da importância daquilo que ele nos mostrou e de sua contribuição para reverter a cegueira que tomava conta do País.
Me arrisco a dizer que, se vivo estivesse, o autor daquele texto célebre e indignado estaria tomado por um sorriso satisfeito com a volta dos elefantes. Até porque, “três elefantes incomodam, incomodam…. incomodam muito mais”.

Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.

COLÔMBIA E VENEZUELA RETOMAM RELAÇÕES, PARA AZAR DO SERRA

Mair Pena Neto no Direto da Redação

Após um encontro entre Hugo Chávez e o novo presidente colombiano Juan Manuel Santos, Venezuela e Colômbia retomaram as relações diplomáticas, interrompidas pela permanente postura beligerante do ex-presidente Álvaro Uribe, aliado incondicional dos Estados Unidos, que sempre desempenhou o papel de fustigar Chávez.

Uribe deixou o poder tentando passar a seu sucessor uma agenda de conflito com o país vizinho, retomando a velha acusação de que a Venezuela abrigava as Forças Armadas Colombianas (Farc) em seu território e tomando a medida política e sem amparo legal de entrar com uma ação contra Chávez no Tribunal Penal Internacional sem a existência de processo prévio que a justificasse.

Embora apoiado por Uribe, o novo presidente colombiano preferiu apostar na paz e após um encontro pessoal com Chávez selou acordo para a retomada das relações, apostando em um diálogo “franco, direto e sincero” sem a contaminação de influências alheias aos países do continente.

O entendimento entre os dois presidentes pode levar a uma incorporação das Farc ao processo político colombiano, encerrando um conflito de 50 anos, que não foi resolvido antes, entre outros motivos, pelo Plano Colômbia, financiado pelos Estados Unidos, para um suposto combate ao narcotráfico, que na verdade visava eliminar o grupo guerrilheiro.

Sem a interferência dos EUA, os países sul-americanos são capazes de se entender, como aconteceu agora, numa negociação mediada pelo ex-presidente argentino Nestor Kirchner e cuja evolução será acompanhada pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul), uma comunidade criada em 2004 para integrar o continente e mediar seus conflitos.

 Alvaro Uribe foi sempre o contraponto a esta política de integração, que jamais interessou ao Estados Unidos, sobretudo pela onda de governos progressistas que tomou o continente. Com a saída de Uribe, o cargo ficou vago, e o candidato tucano José Serra pareceu interessado em ocupá-lo, desprezando o Mercosul, as relações comerciais do Brasil com os países vizinhos de economia menor e repetindo as acusações uribistas de que a Venezuela abriga as Farc.

Serra demonstrou prazer em levar adiante as desastradas declarações de seu inexperiente candidato a vice, Índio da Costa, que até sumiu de cena depois de acusar o PT de ligação com as Farc e com o narcotráfico. O comentário do vice garantiu ao PT direito de resposta no site de campanha do PSDB e o jovem velho político ainda responde na Justiça pelas acusações que não pode provar.

Serra poderia ter encerrado a questão, que todos entenderiam como arroubo juvenil de um jovem liberal de direita, mas fez questão de repeti-la, fomentando um ambiente negativo, que ligava Brasil, Venezuela, Farc e narcotráfico. Até o Departamento de Estado norte-americano o desautorizou ao elogiar pouco depois de suas declarações a atuação de Lula no combate ao terrorismo e sua condenação ao uso de violência pelas Farc.

O discurso de Serra tinha um alvo claro, a candidatura de Dilma Rousseff, que, se eleita, vai levar adiante a política externa integradora do Brasil a seus vizinhos e a ação soberana que levou o país a ganhar expressão e reconhecimento internacionais e o credenciou a mediar conflitos em qualquer lugar do mundo.

A normalização das relações entre Colômbia e Venezuela é mais um trunfo da unidade sul-americana e menos um ponto para a conservadora plataforma de Serra.