sábado, 11 de setembro de 2010

Defende Fidel Castro a paz sem renunciar a princípios justos

Imagen de muestraPrensa Latina- Defender a paz não significa para um verdadeiro revolucionário renunciar aos princípios de justiça, sem os quais a vida humana e a sociedade careceriam de sentido, destacou o líder da Revolução cubana, Fidel Castro.

  Em uma mensagem lida por ele durante a apresentação de seu livro A contra-ofensiva Estratégica, na Aula Magna da Universidade de Havana, Fidel Castro reiterou que sempre condenou o holocausto.

Reforçou que em suas reflexões "O discurso de Obama no Cairo", "O golpe arteiro à espreita" e "A opinião de um especialista", expõe com toda clareza esta posição.

Assinalou que se pode deduzir a grande confusão existente no mundo a partir dos critérios de muitos amigos árabes que ao escutar sua entrevista com o jornalista estadunidense Jeffrey Goldberg, lhe enviaram mensagens assinalando ao repórter como "o maior defensor do sionismo".

Nunca fui inimigo do povo hebreu, admiro sua capacidade de resistir durante dois mil anos a dispersão e a perseguição, sublinhou o líder revolucionário.

Muitos dos mais brilhantes talentos, Karl Marx e Albert Einstein, foram judeus, porque é uma nação na qual os mais inteligentes sobreviviam, em virtude de uma lei natural, acrescentou.

Fidel Castro comentou que em Cuba e no mundo, foram perseguidos e caluniados; mas "isto é só um fragmento das idéias que defendo".

Os muçulmanos, continuou, durante bastante mais de 12 séculos, foram atacados e perseguidos pelos cristãos europeus, devido a suas crenças, como o tinham sido os primeiros cristãos na Roma antiga antes de se converter na religião oficial daquele império.

Enfatizou que a história deve ser admitida e recordada tal como é, com suas trágicas realidades e suas ferozes guerras, e por isso, explica os perigos que hoje corre a humanidade.

Se a isso lhe acrescentasse uma guerra com o Irã, ainda que fosse de caráter convencional, mais valeria que os Estados Unidos apagassem a luz e se despedissem. Como poderia resistir uma guerra contra 1,5 bilhão de muçulmanos?, perguntou Fidel Castro.

Todos os povos têm direito à paz e ao desfrute dos bens e recursos naturais do planeta, considerou.

Apontou que é uma vergonha o que está sucedendo com a população em muitos países da África, onde se vêem milhões de crianças, mulheres e homens esqueléticos entre seus habitantes por causa da falta de alimentos, água e medicamentos.

São espantosas, reforçou, as notícias gráficas que chegam do Oriente Médio, onde os palestinos são privados de suas terras, suas casas demolidas por monstruosas equipes, e homens, mulheres e crianças bombardeados com fósforo branco e outros meios de extermínio.

Também qualificou de dantescas as cenas de famílias exterminadas pelas bombas lançadas sobre os povoados afegãos e paquistaneses, por aviões sem pilotos, e os iraquianos, que morrem após anos de guerra, e mais de um milhão de vidas sacrificadas nessa contenda imposta por um presidente dos Estados Unidos.

O pior que podia se esperar eram as notícias da expulsão dos ciganos franceses, vítimas da crueldade da extrema direita francesa, que eleva já a sete mil deles, as vítimas de outra espécie de holocausto racial, manifestou.





Socialismo sueco???


 Na Suécia políticos sem mordomias

Moradia de ministro sueco


Por Anna Malm*
Os suecos não tem grandes pretensões em relação ao luxo e a riqueza e isso se aplica também aos políticos suecos que são uma parte integral e ativa da população. Desde muito cedo, a mais de cem anos, a estrutura social da Suécia se encaminhou para uma organização social dirigida para a igualdade social entre os membros da comunidade. A igualdade social era e ainda continua sendo um dos principais objetivos da organização política e social da Suécia. Isso faz com que os políticos e mesmo os ministros não esperem deferências extraordinárias ou especiais na Suécia.
Pessoalmente já encontrei ministros de altos postos indo para o trabalho no mesmo ônibus, assim como também no mesmo trem ou no mesmo metrô que eu mesma.  Andar de transporte coletivo, assim como de maneira geral lavar sua própria roupa, limpar sua própria casa e fazer suas próprias compras é o que se espera de todos, incluindo os representantes políticos, ministros e membros do parlamento.
Além disso, se de uma maneira ou de outra um político ou um ministro se aproveitasse de alguma situação, como por exemplo, para conseguir um apartamento melhor no centro da cidade, por conta dos seus contatos relacionados à política, de certeza que não continuaria a ser um ministro, ou um político sueco por muito tempo. A pressão social e da prensa jornalística seria muito grande para tanto.
Naturalmente que muitos ministros, assim como todos os outros cidadões, podem ter seus carros particulares e morarem em casas confortáveis, casas essas que quase sem exceção são compradas por empréstimos bancários que na maioria dos casos se paga durante uma vida inteira de trabalho.
Os suecos não têm grandes pretensões em relação ao luxo e a riqueza, mas por outro lado exigem, para si e para todos os outros, um padrão de vida que em relação ao Brasil creio que se poderá dizer de classe média, que se não abastada, pelo menos de bom nível social e econômico. Para tanto os suecos trabalham conquanto exigindo serviços públicos de saúde, educação e assistência social de alta qualidade.

As reivindicações sindicais e trabalhistas estão entre os aspectos mais importantes e respeitados da vida pública do país. Vendo-se, por exemplo, a residência do ministro da segurança social e econômica da Suécia pode-se achar que a casa até que é muito boa, mas chama-se a atenção para o fato de que essa mesma casa muito bem poderia pertencer a um carpinteiro, motorista de caminhão ou operário de, por exemplo, uma fábrica de automóveis ou a uma professora de nível primário ou mesmo a uma enfermeira ou a um condutor de ônibus para não se dizer de um metalúrgico ou trabalhador portuário, porque como dito, o financiamento da compra da casa sempre será feito por um banco. Sempre se terá uma hipoteca ou uma garantia de um dos inúmeros sindicatos trabalhistas para garantir a compra da casa própria com prestações razoáveis.
Acrescenta-se que de uma maneira geral e em comparação, a família não tem o mesmo significado no Brasil que na Suécia. O que no Brasil de modo geral se espera de ajuda dos familiares em caso de desemprego, doença, dificuldades financeiras temporárias etc., na Suécia se providencia através de um sistema de seguro social que abrange todos os aspectos acima mencionados.
Para tanto há seguro de saúde, seguro de desemprego, garantias para seguro de moradia ou de assistência social nas diversas situações da vida.  Esse sistema de seguro social abrangente é um dos resultados dos últimos cem anos de luta trabalhista, que hoje em dia se tornou parte do dia a dia do sueco assim como dos seus políticos, sendo que nenhum partido político, por mais de direita que seja, ponha em discussão esses princípios básicos.
A Suécia era um país pobre por volta do começo de 1900, sendo então um país agrário que aos poucos se foi industrializando.  As reinvidicações sindicais e trabalhistas que começaram a se impor por volta de 1911 com a reinvidicação do direito do voto para as mulheres foram se consolidando com exigências de reformas sociais no campo da saúde, habitação e educação a partir de 1920, mas a isso voltaremos em outras reportagens.

Por já nos contentaremos em realçar que as reinvidicações trabalhistas nos levam a constatar que os políticos de hoje deverão lavar suas próprias roupas em lavanderias comunais instaladas nos prédios onde moram, ou em máquinas de lavar em casa própria, porque empregadas domésticas aqui hoje já não existem, não senhor.
Portanto, um dia a dia de um político sueco, seja esse político um homem ou uma mulher, ministro ou não, será de se levantar cedo para levar os filhos à escola ou ao jardim de infância comunal, pôr-se a caminho do trabalho, almoçar no trabalho ou em um restaurante popular, voltar ao trabalho até mais ou menos as cinco, correr para recolher os filhos, se precisarem fazer compras para a casa, chegando em casa preparar o necessário, comer alguma coisa etc e tal. Talvez à noite esse político possa ter que partir para alguma reunião local ou coisa do gênero para bem do seu partido ou poderá ver televisão, ler, escrever, ou fazer qualquer outra coisa, porque amanhã será outro dia.
Descansar e fazer os programas da sua vida pessoal isso ele ou ela o fará no fim de semana. Férias a maioria as terá no verão o que pode durar de cinco a dez semanas.  Nas férias a maioria aproveitará para viver perto da natureza na Suécia, talvez com umas duas semanas de viagem, na maioria das vezes para o sul da Europa onde aproveitará do sol e mar sul - europeu.
Não. Os políticos no congresso sueco não têm motoristas ou assessores particulares. Além disso, devem lavar sua própria roupa, comprar e fazer sua própria comida se não quiserem comer em restaurantes ou pensões. Quanto a morarem em apartamentos pequenos de 50 metros quadrados e dormir em sofá-cama isso só o fazem- regra geral, se pernoitarem em suas salas de trabalho no congresso.
No parlamento, ou em outras palavras o que no Brasil se chama o congresso nacional, que aqui é localizado em Estocolmo e constituído por 349 representantes vindos de todo o país, esses representantes dos diversos partidos e regiões tem então suas salas de trabalho onde podem permanecer se quiserem, dia e noite. Como muitos desses representantes vem de outras regiões do país não tendo amigos, apartamentos ou residência em Estocolmo onde possam morar mais regularmente muitos deles preferem pernoitar em suas salas de trabalho no próprio parlamento, onde de qualquer maneira, já lá sempre terão um sofá mais ou menos confortável.
Como todos têm um salário e honorários digno do nome nunca deverão ter dificuldades de irem para suas casas nas diversas regiões do país durante os fins de semana para encontraram suas respectivas famílias, o que na verdade a maioria o faz. Em suas regiões poderão morar em casas simples mas confortáveis ou em apartamentos que sempre terão, regra geral, um padrão de nível confortável.
Quanto a mordomias é só esquecer, porque por aqui não as há.  
*Anna Malm é correspondente de Pátria Latina em Estocolmo

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O TRABALHO (CAPITALISTA) ESCRAVIZA.

Por Aedovirtual no blog  Porrada Cultural
 
Nos portões do campo de concentração de Auschwitz lia-se a frase ‘O trabalho liberta’. Ironia dos nazistas que construíram estes campos como locais de trabalho forçado e, posteriormente, de extermínio em massa de judeus. O trabalho passou por inúmeros formatos durante a história, desde o trabalho escravo e servil até o trabalho ‘livre’, ironia do sistema capitalista.

O trabalho artesanal, desde a antiguidade até a Revolução Industrial do século XVIII, era uma forma de trabalho onde realmente o trabalhador era livre. O artesão era dono de suas ferramentas de trabalho, trabalhava no ritmo que bem entendesse, trabalhava nos dias e horários que desejasse. Este sim era uma forma de trabalho livre.

O artesão não tinha a mesma visão de mundo que os capitalistas que tinham como objetivo central de suas atividades a acumulação de capitais, a acumulação de riquezas. O artesão trabalhava o necessário para viver, não tinha uma perspectiva de enriquecer. O tempo não era dinheiro, o tempo era vida.

O sistema capitalista estabeleceu a compra do trabalho em troca de salários, criou máquinas que escravizam os trabalhadores e transferiu para os capitalistas o controle sobre o ritmo e o tempo de trabalho.

O artesão sabia exatamente como sua mercadoria era produzida, ele criava o produto do começo ao fim, fazendo com que um dos seus produtos fosse diferente do outro. Se você tratasse um artesão como trabalhador ele era capaz de te dar uma porrada. O que ele fazia era arte, cada tapete do tecelão era diferente do outro. Cada cadeira produzida por um marceneiro era única.

Com as fábricas passou a vigorar a padronização, todos os produtos feitos por uma máquina são exatamente iguais. Cada trabalhador realiza apenas uma pequena parte do produto, não reconhecendo no produto final o seu trabalho. É o que chamamos de trabalho alienado. A charge abaixo é muito representativa deste processo de alienação do trabalho no capitalismo.



O mito de Sísifo nos leva a pensar se os gregos já não pressentiam o tédio, a monotonia, o porre, o saco, que é o trabalho alienado que submete milhões de pessoas mundo a fora a um processo que é capaz de enlouquecer ou, no mínimo, desumanizar qualquer um.

Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar um rochedo morro acima e, depois, o rochedo rolava pela encosta e Sísifo começava tudo de novo, indefinidamente. Veja esta animação sobre Sísifo:



Na década de 1930, Chaplin lançou o filme “Tempos Modernos”, hoje um clássico do cinema. Mas nos EUA o filme não foi bem recebido pelos conservadores que viam nele uma clara crítica ao capitalismo e, portanto, um manifesto pró-comunismo. Na década de 1950, período marcado pelo fenômeno do Macarthismo (ou ‘caça as bruxas’), os conservadores norte-americanos passaram a perseguir artistas e intelectuais que fossem considerados simpatizantes da URSS e do comunismo. Chaplin foi perseguido pelo macarthismo por ter dirigido o filme “Tempos Modernos”.

Mas o que o filme de Chaplin tinha de tão perigoso, de tão crítico? A cena abaixo é uma parte do filme e, a partir dele, você pode perceber a genialidade do diretor em sua feroz crítica ao trabalho alienado que o capitalismo nos impõe.




Leia mais sobre o trabalho alienado aqui:

http://educacao.uol.com.br/filosofia/marx-alienacao.jhtm

Sobre o mito de Sísifo leia aqui:


http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mito_de_S%C3%ADsifo

Sobre o macarthismo leia aqui:

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/mccarthy.htm

Por que sou a favor de benefícios assistenciais

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Gente é pra ser feliz, (…) não pra morrer de fome
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Meire no blog Salada Medica

Este post dá apenas um pontapé para que vocês discutam este tema.
Praticamente não dei plantão em serviço público. Em pouco tempo de formada ingressei na medicina privada e por anos mantive clientela de médio a alto nível sócio-econômico, já que só trabalhava em consultório particular.
Minha vida acadêmica esteve totalmente fora da realidade do nosso país até 2006, quando, pensando em fazer mais do que só consultório particular, trabalhei como médica da Rede Estadual de Assistência à Pessoa com Deficiência e tomei posse no cargo que ora exerço no Governo Federal.
Até entendo por que algumas das pessoas do meu círculo de contatos pensam como eu pensava antes, que políticas sociais são medida populista, que não é dando que se ensina, que não é dando que se leva um povo adiante, que esforço pessoal é suficiente, que iniciativa privada é o que há e por ai vai, porque já pensei assim também e não posso afirmar que a minha posição atual seja a correta.
Quem mudou meu pensamento da água para o vinho não foi nenhum bom argumentador, nenhum sociólogo, nenhuma assistente social. Foi uma baixinha de dois anos de idade, moreninha dos cabelos negros, sorridente, carinhosa, de família muito pobre  e domiciliada na periferia de Natal. Como muitos outros pacientes continuam sendo, ela foi uma das minhas grandes professoras.
A menininha nasceu com surdo-mudez e foi atendida por mim no Centro de Reabilitação Infantil. Indiquei avaliação otorrinolaringológica e ela foi escolhida para receber implante coclear. Vibramos de felicidade porque a pequena iria começar a ouvir, faríamos tratamento com fonoaudióloga  e e ela poderia ter uma vida mais próxima a das crianças de sua idade.
Mas o pai não permitiu a cirurgia, um procedimento caro, mas que seria custeado pelo SUS. Não houve acordo, tentamos de tudo e ele foi inclusive bem agressivo com a equipe. Precisei pedir ajuda ao Conselho Tutelar.
No final das contas o pai, pessoa não alfabetizada, sem formação técnica alguma, sem emprego e sobrevivendo de ‘vínculos’ precários de trabalho braçal, chorou bastante e admitiu o motivo: a menina recebia o amparo social ao deficiente. Se a menininha fosse curada a família  correria o risco de não ter o que comer, porque uma vez deixando de ser ‘deficiente‘, a menina perderia seu benefício (um salário mínimo por mês).
Entre outras atribuições, avalio praticamente todos os dias pessoas com deficiência para subsidiar a concessão deste mesmo benefício. E  não raro me emociono com mães e pais buscando, a todo custo, transformar perante a classe médica o seu filho ou filha em uma criança com invalidez. Os pais circulam em médicos, fazem exames, queixam-se de que crianças sorridentes e sapecas são psicopatas ou que crianças já alfabetizadas tem atraso mental grave e o que é pior, orientam que a criança fique calada e diga que nada sabe durante a entrevista pericial.
Excluindo os casos claros de tentativa de fraudar o sistema,  a manobra resulta do desespero, da falta de perspectiva. É a fome. Uma das formas da família receber a garantia de uma renda mensal é ser acometida por alguma fatalidade. Um pai que fique paraplégico, uma mãe que tenha um derrame e perca a memória, um filho com deficiência grave.
Um povo com fome é de fato um povo inválido, um povo paralisado, desconectado, sem capacidade de ação, é um povo que estende a mão, espera e agradece o pouco que vier, pede esmola para não roubar.
Filho de faminto tem desnutrição intra-útero e corre maior  risco de desenvolver retardo do desenvolvimento motor e cognitvo, além de epilepsia e possivelmente danos na arquitetura cerebral. Enquanto não houver um pequeno enriquecimento do povo muito pobre no nosso país iremos apenas perpetuar essa ciclo bizarro e cruel.
Quando uma família recebe um benefício assistencial que seja de fato suficiente para garantir uma cota calórico-proteica mínima ocorre uma sequência de benefícios. A mãe, que antes precisava se prostituir ou saia para trabalhar como ‘autônoma’ recebendo muito menos do que merece e muitas vezes deixando seus filhos trancados dentro de casa ou largados na rua, pode ser dar ao ‘luxo’ de dar mais atenção às crianças e mantê-las menos próximas do underground.
Sou a favor de um benefício de prestação continuada para toda e qualquer família em alta vulnerabilidade, não só para idosos ou pessoas com deficiência incapacitante, desde que associado a um mecanismo de contrapartida.
A contrapartida seria manter a criança na escola, o adolescente em um curso técnico, o adulto em programas de alfabetização, além de um bom programa de controle de natalidade. Tudo isto o Brasil já tem, mas muitas vezes as pessoas não buscam.
Fora a questão humanista em si, vem a questão de saúde pública.
A má alimentação afeta não só o crescimento e desenvolvimento da pessoa, afeta sua imunidade, facilita infecções. Famílias pobres vivem confinadas em ambientes minúsculos, muitas vezes em casas com um cômodo para várias pessoas. O confinamento aliado à desnutrição amplifica a proliferação de vírus, fungos e bactérias, tanto que o Brasil não consegue se livrar da Febre Reumática, da Tuberculose ou da Hanseníase.
Saindo da questão de saúde pública, tem a questão econômica.
O adoecimento destas pessoas gera ônus para os cofres públicos. É muito mais barato manter o povo alimentado, acordá-lo para produzir e impulsionar o desenvolvimento do país do que custear tratamento de condições ligadas a pobreza e subnutrição, exames complementares, honorários médicos, medicamentos…
Se seguirmos em frente no raciocínio, chegamos ainda em outro ponto. A distribuição de dinheiro que está retido nas contas do Governo ou em mãos de graúdos aumenta o poder de compra das pessoas. Isto gera injeção na economia, nas vendas, nos negócios, na capacidade de manutenção das empresas e geração de mais empregos. Parte destes benefícios volta para o próprio governo na forma de impostos sobre produtos e parte fica justamente nas mãos de uma parcela dos contribuintes, sejam eles comerciantes ou empresários.
E fora as questões humanistas, de saúde pública e econômica pinceladas aqui,  há a questão de segurança.
Em ‘O Ensaio Sobre a Cegueira‘ (Saramago), pessoas pacatas e de vida tranquila que se vêem engaioladas e sem suprimentos alimentares, em pouco tempo passam a apresentar comportamento criminoso, do furto ao estupro. Em todo tempo e lugar, onde há miséria e fome há saques e crimes de outras naturezas. Já sabemos que embora exista multicausalidade, inclusive uma predisposição genética ao comportamento sociopata, a variável isolada mais importante na prevalência da criminalidade de um país é a baixa condição socio-econômica.
Então se nada parece um bom argumento para justificar a distribuição de renda para pessoas desfavorecidas, pensar num país com menor violência, com menos crianças nas ruas servindo de ‘aviãozinho‘ para traficantes, com menos pedintes nas ruas não é tentador?
Mas ai vem o argumento do contra que é de fato uma falácia de generalização. ‘Ah, quem tem uma renda mínima não vai mais querer trabalhar, vai se acomodar’. Quem faz isto chama todo o povo brasileiro de oportunista e preguiçoso. Quem convive de perto com gente muito carente pode afirmar que boa parte do povo é formada por pessoas com vontade de mudar de vida, por pessoas que só precisam que uma mão seja estendida, por pessoas que querem o melhor para seus filhos, que querem que seus filhos um dia alcancem algo que nunca alcançaram.
Muitos de nós certamente viemos de famílias pobres e somos resultados dos esforços heróicos de nossos avós e pais.Quem não quiser crescer, que assim fique, viva de uma bolsa qualquer, mas não é por estes que o todo deve ser sacrificado. Façamos a devida medida de justiça.
Em suma e pensando com meus batons, chego a conclusão que a implantação da renda mínima, que seria um benefício idêntico ao concedido a idosos carentes e pessoas com deficiência + invalidez para o trabalho, é estratégia altamente razoável dos pontos de vista de cidadania, saúde pública, economia e segurança e que pode, em médio prazo, mudar o perfil do povo brasileiro.
Quanto menos pessoas com fome e mais pessoas com poder de compra o Brasil ‘produzir’, melhor para todos. Quem paga a conta são os brasileiros que como eu, tiveram mais oportunidades, puderam estudar e ter colocação no mercado, uma vida digna e independente de políticas sociais.  E pagamos satisfeitos se o fruto no nosso trabalho é transformado em algo bom para o país como um todo.
É para papo de mais de metro, porque tem ainda a questão penal. Num pais menos pobre o Estado pode ter garantido o seu direito de punir, pois não há atenuantes para quem rouba de barriga cheia.
Fora tudo isto, esta concessão evitaria a triste necessidade da família carente da atualidade entrar em verdadeiro processo mórbido em busca de um membro da família que seja inválido para que sua renda seja concedida. Vocês não tem idéia de como é triste atender pessoas com este comportamento. O brasileiro não merece essa humilhação e um país com uma carga tributária violenta como o nosso tem o dever de fazer isto.
Abraços,

Leonid Savin: EUA se preparam para "guerra" na internet

Depois do dia 1º de outubro, milhares de piratas cibernéticos, que trabalham como espiões militares dos Estados Unidos, se envolverão integralmente em atividades da guerra informatizada. As declarações no sentido de adotar medidas de defesa cibernética podem ser ouvidas com muita frequência no país. Analistas afirmam que as informações voltadas às redes de comunicação, das quais depende sua infraestrutura nacional, são vulneráveis aos criminosos cibernéticos.


Por Leonid Savin, no Global Research

O tema da defesa do ciberespaço é de máxima prioridade não só para os EUA. “As estatísticas revelam que os ‘cibercriminosos’ aumentaram a aposta e estão se tronando mais sofisticados e criativos na distribuição de formas mais agressivas de softwares maliciosos (malwares), segundo o site governamental Defence IQ. “Nossas estatísticas mostram que os trojans e os roguewares (“falsos" programas antivírus) ascenderam a quase 85% do total da atividade dos malwares no ano de 2009.

Esse foi também o ano de Conficker (um worm — programa autorreplicante — destrutivamente poderoso), ainda que isso oculte o fato de que os worms classificados são só 3,42% dos malwares criados no ano passado”, afirma a revista. “O worm Conficker causou graves problemas, tanto em ambientes domésticos e corporativos, com mais de 7 milhões de computadores infectados em todo o mundo, e segue se propagando rapidamente” (1).

Comparado a outros países, parece que os EUA estão preocupados demais com o problema da defesa cibernética. No dia 26 de abril, a CIA fez conhecer seus planos para novas iniciativas na luta contra os ataques baseados na web. O documento descreve os planos para os próximos cinco anos e o diretor da agência, Leon Pannetta, disse que é “vital para a CIA estar um passo à frente do jogo quando se trata de metas como a segurança do ciberespaço” (2).

Em maio de 2009 a Casa Branca aprovou o Protocolo para as Políticas no Ciberespaço (3), apresentado ao presidente dos Estados Unidos pelos membros de uma comissão especial. O documento resume o estado da rede dos EUA e a segurança da informação nacional, tendo proposto nomear um alto oficial para a cibersegurança encarregado de coordenar as políticas da área nos EUA.

O informe descreve um novo marco global para facilitar a resposta coordenada por parte do governo, do setor privado e dos aliados em caso de um incidente cibernético significativo. O novo sistema de coordenação permitiria a autoridades federais, estaduais, locais e tribais trabalharem antecipadamente com a indústria para melhorar os planos e recursos disponíveis para detectar, prevenir e responder a incidentes significativos em segurança cibernética. A iniciativa também envolve proporcionar a essas instâncias dados de inteligência e opções de caráter técnico e funcional, além de garantir a formação de novos especialistas na defesa cibernética.

E um último passo, mas não menos importante: em meados de 2010, a base aérea de Lackland, no Texas, começou a construção do primeiro centro especializado de inteligência virtual, onde já trabalham uns 400 especialistas. O 68º Esquadrão de Guerra de Redes (The 68th Network Warfare Squadron) e o 710º Esquadrão de Inteligência de Vôos (710th Information Operations Flight), da Força Aérea, foram deslocados a San Antonio. Esse lugar foi escolhido porque está perto das instalações militares que contemplam operações de “ciberguerra”, como a Agência para a Inteligência, a Vigilância e o Reconhecimento da Força Aérea e o Centro Criptologia do Texas, da Agência de Seurança Nacional, que comandam operações de informação e criptologia para o apoio da Força Aérea dos Estados Unidos. Funcionarão integrados aos interesses do Comando Espacial, o Comando da Força Aérea e a Reserva da Força Aérea dos Estados Unidos.

Numerosas publicações dos EUA mostram que as refomas das forças cibernéticas para a defesa nacional, assim como a introdução da doutrina de estratégia de guerra cibernética estão a ponto de se completarem. Quanto à estratégia para a “ciberguerra” dos Estados Unidos podemos supor que ela está em consonância com o conceito geral da ofesiva militar global dos EUA.

William Lynn III em seu artigo “A Ciberestratégia do Pentágono”, publicado na revista Foreign Affairs (setembro/outubro de 2010), expõe cinco princípios básicos da estratégia de guerra do futuro:

– O ciberespaço deve ser reconhecido como um território de domínio igual a guerra por terra, mar e ar;

– Qualquer postura defensiva deve ir mais além “da boa preparação ou higiene” e incluir operações sofisticadas e precisas que permitam uma resposta rápida;

– A Defesa Ciberespacial deve ir mais além do mundo das redes militares do Departamento de Defesa, para chegar até as redes comerciais, que também são subordinadas ao conceito de Segurança Nacional;

– A estratégia da Defesa Ciberespacial deve acontecer com os aliados internacionais para uma efetiva política “de advertência compartilhada” ante as ameaças;

– O Departamento de Defesa deve contribuir com a manutenção e aproveitar o domínio tecnológico dos Estados Unidos para melhorar o processo de aquisições e se manter com a velocidade e agiliade da indústria da tecnologia da informação (4).

Ao comentar esse artigo, os analistas sublinham que “as capacidades que se buscam permitirão aos “ciberguerreiros” dos EUA enganar, negar, interromper, degradar e destruir a informação e os computadores de todo o mundo” (5)

O general Keith Alexander, chefe do novo super Cibercomando do Pentágono (ARFORCYBER), afirmou: “Temos que ter capacidade ofensiva, o que significa que, em tempo real, seremos capazes de aniquilar qualquer um que nos ataque”. Keith Alexander comparou os ataques cibernéticos com as armas de destruição em massa, e de acordo com suas recentes declarações os EUA têm previstas as aplicações ofensivas desse novo conceito de guerra.

Notas

(1) http://www.defenceiq.com/article.cfm?externalID=2718

(2) http://www.defenceiq.com/article.cfm?externalID=2460

(3) http://www.whitehouse.gov/assets/documents/Cyberspace_Policy_Review_final.pdf

(4), William J. Lynn III W. “A defesa de um novo domínio: “Ciberestratégia” do Pentágono” Foreign Affairs. Setembro / outubro de 2010. http://www.foreignaffairs.com/articles/66552/william-j-lynn-iii/defending-a-new-domain (29/08/2010)

(5) S. Webster: “O Pentágono poderá aplicar a política de guerra preventiva na Internet”. 29 de agosto 2010. http://www.rawstory.com/rs/2010/0829/pentagon-weighs-applying-preemptive-warfare-tactics-internet/ (30/08/2010).

(6) E. Nakashima: “O Pentágono considera ataques preventivos no marco da estratégia de ciberdefesa” The Washington Post. 28 de agosto 2010. http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/08/28/AR2010082803849_pf.html

(7) Daniel Lynn L. “Esboços das ameaças da informática e as medidas defensivas” Serviçoo de Imprensa do Exército dos EUA http://www.defense.gov/news/newsarticle.aspx?id=60600
 

Apertem os cintos: o PT sumiu!

  Raymundo Araujo Filho no Correio da Cidadania  
 
Nestes dias fiz uma pequena leitura do mapa eleitoral para a eleição de governadores nos estados, mais ou menos consolidados a cerca de um mês das eleições. Pouparei este trabalho para os meus possíveis leitores, pois certas tarefas não desejo nem para os meus desafetos, quanto mais para quem me lê.
 
É surpreendente a mágica que se faz na opinião pública, transformando o que é uma acachapante derrota eleitoral em uma "vitória retumbante".
 
O artifício é simples, e foi amplamente assumido pelo próprio PT, que, em troca da eleição de sua candidata à presidência da República, fez todos os acordos regionais com ex-adversários e atuais aliados de ocasião, visto a opção do lullo-petismo de usar o povo apenas como massa de manobra eleitoral, excluindo-o como sujeito do debate político. Ou seja, fez a opção pela "governabilidade palaciana" como caminho mais fácil para manter-se não no poder, mas no cargo principal do país, ao arrepio de todas as propostas originais que construíram, durante cerca de 25 anos, as forças que elegeram Lulla em 2002.
 
Assim, repasso a todos o tal mapa eleitoral nos estados, com a devida análise que me permito, a partir dos fatos, não dos desejos ou mentiras, expondo e confirmando o que digo no título do artigo.
 
O presidente Lulla se constitui na entidade política de maior projeção midiática, o PT é falado todos os dias em todos os jornais e mídias, assim como as políticas governamentais, sendo nenhuma delas criticada no seu íntimo. Ao contrário, são apoiadas desavergonhadamente até por quem se diz oposição de direita ao Lulla, pois sabem que este obedece às diretrizes do capital internacional, este sim o principal mandatário do país. No entanto, o PT como partido não chega nem perto de uma inserção institucional na política brasileira do tamanho do alarde que fazem, pegando carona no Lulla. Aliás, paro de escrever sobre política se alguém me mostrar uma só das macropolíticas de Lulla que seja criticada pela direita brasileira.
 
Assim, temos o PT com vitória garantida em apenas três estados, mas, sem desmerecê-los, de pouquíssima importância econômica e política para o país. São eles: Acre, Bahia e Sergipe.
 
Temos Tarso Genro com chances, mas sem qualquer garantia de vitória (acho até que perderá), com o PT disputando o segundo turno completamente empatado com as forças de oposição (como sempre no dividido Rio Grande do Sul). E no Mato Grosso do Sul, se houver segundo turno e Deus absolver todas as falcatruas e acordos espúrios (até com o DEM, inaugurando a aliança PT-DEM, anos atrás no Mato Grosso do Sul), temos o ex-governador petista que atende pela alcunha de Zeca do PT- que, entre outras coisas, foi o avalista da entrada no partido de pedófilo condenado, o ex-vereador de nome Disney (sem ironias).
 
E só! Este é o legado do PT nas suas alianças para a eleição de Dilma, após oito anos de governo Lulla, sem povo, a não ser como acessório de poder.
 
A senadora por Santa Catarina, Ideli ‘Salvar-se’, aparece com míseros 16% dos votos contra Ângela Amin do PP, não governista (31%), e Colombo, do DEM (27%), mesmo após ter sido subserviente ao extremo, tendo uma exposição midiática bem maior que a sua estatura (é baixinha, a senadora...). Até em convescote com os criadores da Bossa Nova aqui no Rio a senadora veio. E lamentou que sua mãe "não estivesse viva para curtir aquele momento". Ao menos, não vai ver sua filha vergonhosamente derrotada, após tanta subserviência.
 
Para tentar amenizar esta derrota petista nestas eleições para governos estaduais, o PSB (partido "quase" irmão do PT, com Skaff e tudo), com Renato Casagrande, será eleito no primeiro turno no Espírito Santo. A mesma coisa no Ceará, com o irmão do "enfant terrible" Ciro Gomes, o Cid Gomes (que algum troco será obrigado a dar no PT de lá, por tantas sacanagens das quais ele e seu irmão foram alvos por parte do partido). E o PSB está também consolidado como vitorioso em Pernambuco. Nestes estados, portanto, só restará ao PT ficar feliz com a vitória dos outros.
 
Em nenhuma outra unidade da federação aparecem o PT e o PSB em posição razoável na disputa. Restam o PDT e o PMDB como aliados, que analisaremos abaixo, visto que o PC do B não dá nem pro cafezinho...
 
O PDT, em Alagoas, terá o Ronaldo Lessa a apoiar o Collor ou ser apoiado por ele, para eleger a coligação pró-Lulla. O que seria inimaginável alguns poucos anos atrás. E o Jackson Lago, PDT do Maranhão, boicotado pelo PT em aliança com a "progressista" Roseana Sarney (quase uma Dilma, hoje em dia), vai amargar o seu ocaso político sendo traído por quem sempre emprestou apoio, e tendo a pequena dissidência petista por lá feito até greve de fome para votar no... PC do B.
 
Resta então, para completar o júbilo petista com a vitória alheia, a eleição apenas provável do PMDB governista nos estados da Paraíba, Tocantins, Maranhão e Rio de Janeiro.
 
Em Minas Gerais, parece que Anastásio (apoiando e apoiado por Dilma, por baixo dos panos) vai disputar até o último segundo. E convenhamos que ganhar com Helio Costa soa mais como derrota - ao menos soava, antigamente.
 
No Rio Grande do Sul, uma possível vitória do PMDB com Fogaça será apoiada pelo PSDB. Assim como no Mato Grosso do Sul, em que a vitória do PMDB com Puccineli, de OPOSIÇÃO à Dilma e ao PT local, é bem provável.
 
No Pará, D. Ana Julia Carepa patinou, talvez por iniciativas como a sua aliança com madeireiros e o Projeto Paz no Campo (apelidado pelo MST de Pau no Campo), e por lá o governo será entregue ao PSDB, com Simão Jatene, com ou sem Barbalho a esta altura do campeonato (certos amigos são verdadeiros inimigos...). Já em Roraima, o PT sequer existe, nem tem aliados, mesmo os de mais baixa estirpe, com os quais a legenda se acostumou a conviver, a meu ver, despudoradamente.
 
O resto, cerca de nove estados, vai ficar mesmo com a oposição, salvo algum desimportante engano meu (paciência tem limites para estas análises). Traça-se um quadro onde o PT naufraga eleitoralmente, cedendo lugar para cerca de dez governadores "aliados", já sendo certo nove de oposição, além de disputa acirrada em apenas sete estados.
 
Assim, podemos afirmar, sem medo de errar, que Lulla e o PT oPTaram pela formatação do país em Sesmarias Políticas, retrocedendo aos tempos coloniais para manter a unidade do país (em torno da aristocracia). Dividiram o país nas malditas Sesmarias, das quais não nos livramos até hoje, e estão virando moda novamente pelas mãos do Partido dos Trabalhadores e seus coronéis aliados.
 
Some-se a isso a vitória eleitoral do PMDB, que, além de ter um vice que não é nenhum inexperiente, ao contrário, é conhecida ave de rapina do poder. Fará este partido ter o presidente da Câmara Federal e do Senado, podendo sair muito fortalecido nos estados. Só o PT mesmo para alçar um medíocre como Michel Temer a vice-presidente da República.
 
Ora! Que melhor resultado eleitoral poderiam esperar aqueles que chegaram a se assustar com o surgimento de um partido que representou as legítimas forças populares em luta, por tênues anos?
 
Certamente estão felizes e contemplados com uma Dilma que representa a domesticação dos tecnocratas e burocratas que se apoderaram das energias criativas que fizeram nascer o PT na década de 80, ladeada por cães de guarda do Império, como o são Pallocci, Henrique Meirelles e Jobim.
 
Que resultado melhor do que este, com a completa super-estruturação do poder, já totalmente burocratizado e seqüestrado, por não possuir povo protagonista, seria imaginado por Stanley Gacek? Refiro-me ao gerente trabalhista da AFL-CIO, o sindicalismo dos EUA que Lulla representou oficialmente na reunião do diálogo interamericano em 1992, com FHC, Salinas e tantos outros que se tornaram algozes de seus povos.
 
Portanto, eis o trágico resultado da experiência do lullo-petismo no poder aqui no Brasil. Fizeram com que o Brasil, tal e qual um cachorro doido, fique a dar voltas sobre si mesmo, buscando morder o próprio rabo, aqui representado por Sarney e companhia bela. Fazem fachada aos "homens do norte", que são os verdadeiros cabides em que se apóia este grupo de arrivistas do lullo-petismo, doando-lhes o Brasil em troca da concessão de ter a cabeça de chapa na eleição presidencial. Tudo para, no fim das contas, apenas gerenciarem a entrega do país com fachada - só fachada - de progressistas.
 
É a ex-esquerda Corporation S.A., aqui fazendo o papel de Luiz XIV e Maria Antonieta, nesta entrega pornográfica do país aos estrangeiros e capitalistas "nacionalistas". Dos aristocratas franceses, a guilhotina da Revolução cortou-lhes a cabeça. Quem sabe, um dia, esses neo-aristocratas brasileiros não serão passados pela guilhotina da História?
 
Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e entende muito bem de cachorros loucos.

Guerra eleitoral

Juremir Machado no CP de 08/09

Uma eleição deveria ser banal: a disputa entre diferentes projetos.
Em alguns países, como a Suíça, chega a ser um tédio. José Serra e Dilma Roussef teriam de ser vistos apenas como os representantes de ideias opostas. Nem tão opostas assim de resto.
Como diria o sábio Edgar Morin, do pico dos seus 89 anos de idade, ideias antagônicas e complementares. Pode? Logicamente talvez não. A vida é mais lógica do que a lógica. Inventa sua lógica. A campanha eleitoral, porém, revela outra realidade, a diabolização do oponente. Serra não para de cair nas pesquisas. Quanto mais adota o discurso demonizador do seu vice Índio da Costa, mais despenca.
Boa parte dos partidos de centro, como o PMDB, já aderiu à candidatura de Dilma. Um naco do PP, mais à direita, também já se bandeou. A resistência total fica por conta do PSDB e do Dem. Há uma razão óbvia para isso: são os partidos da candidatura José Serra – Índio da Costa.
Até aí tudo bem. Mais do que isso, ótimo. É a democracia.
Por que então a opção de alguns por ver em Dilma um terrível perigo para o Brasil se homens e mulheres considerados mais conservadores já capitularam e não demonstram o menor medo da petista?
O Uruguai tem um presidente que foi tupamaro. Está indo muito bem.
Por que o Brasil não poderia ter uma presidente que fez parte da luta contra a ditadura militar? Será que os estrategistas de Serra não percebem que a opção por assustar os eleitores é primária e contraproducente? Dilma não come criancinhas. Nem vai estatizar as multinacionais ianques.
Há pessoas que pararam no tempo.
Imaginam, por exemplo, que qualquer crítica aos defeitos do capitalismo signifique uma defesa do comunismo. É a chamada retórica macartista. Desejo de caçar bruxas. Invenção de espantalhos.
Uma senhora me mandou um e-mail no qual me acusava de ser “meio comuna”. Minhas ideias sobre economia não vão além daquelas professadas pelo prêmio Nobel Paul Krugman, que está muito longe de ser um comunista.
Em artigo recente no jornal “New York Times”, porém, Krugman disse que Barack Obama está sendo vítima “da direita populista e das grandes corporações”. As grandes corporações não parecem, até agora, apavoradas com a possível vitória de Dilma Roussef no primeiro turno. O problema é a direita populista e desesperada.
Krugman deu uma letra impressionante: “Do lado de fora, essa ira contra a regulação parece bizarra. Quer dizer, o que eles esperavam? O setor financeiro, particularmente, operou de forma descontrolada sob a desregulação, provocando, finalmente, uma crise que deixou 15 milhões de americanos desempregados e exigiu socorros financeiros de larga escala financiados pelo contribuinte para evitar consequências ainda piores. Wall Street esperava sair de tudo isso sem arcar com algumas novas restrições? Aparentemente, sim”. Querer mais regulação estatal não é coisa de comunista. Votar numa candidata de esquerda não é escolher o diabo. Melhor seria um pouco de enfado: discutir apenas projetos.
Ou resultados.
Aí é que a porca torce o rabo. Está melhor.

Desmonte da TV Cultura contraria a comunicação democrática, plural e sem fins comerciais

Escrito por Gabriel Brito, da Redação do Correio da Cidadania  
 
No mês de agosto, os responsáveis pela administração e manutenção da Rádio e TV Cultura anunciaram planos de desmonte da maior referência nacional de meio de comunicação público. Por meio de João Sayad, presidente da Fundação Padre Anchieta (FPA), que decide seus rumos, anunciou-se a intenção de demitir 1400 funcionários de todas as áreas no final do ano, criando enorme e inevitável tensão em torno de seu futuro.
 
"Essas idéias de esvaziamento e desmonte vêm de algum tempo. Como exemplo, os programas infantis, marcas registradas da TV, deixaram de ser produzidos e sobrevivem de reprises. O nível de novas produções é baixo já há alguns anos. O problema não é novo, é que explodiu agora, fruto de uma política que tampouco começou agora", diz José Augusto de Camargo, o Guto, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
 
Por conta disso, logo após a disseminação de tal propósito, criou-se o Movimento Salve a Rádio e TV Cultura, formado por diversas entidades da sociedade civil, sindicatos e profissionais da área, a fim de combater mais um golpe de uma gestão voltada ao mercado.
 
Em entrevista ao Correio, Rose Nogueira, ex-funcionária da Cultura e também do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, afirma que "não há razão alguma para esse desmonte. A TV Cultura tem de continuar com sua programação, como sempre foi, produzindo seus programas, aperfeiçoando cada vez mais sua produção e reverenciando seu próprio produto, que é maravilhoso".
 
Por trás da idéia de enfraquecer nossa única emissora aberta de caráter não comercial, reside a persistente lógica de dissolução da ‘coisa pública’, a favor de uma pretensa ‘eficiência’ administrativa, em mais um dos capítulos de transferência do patrimônio público e social à iniciativa privada. "A TV Cultura é um patrimônio do povo paulista e brasileiro. Patrimônio material e cultural, pois é um dos melhores lugares para se fazer televisão, e também histórico, tendo sido local de trabalho de gente como Wladimir Herzog e outros grandes profissionais que passaram por lá", assinala Rose.
 
Neoliberalismo, mais uma dose
 
"Na verdade, a TV tem projeto antigo de mudança de perfil, que é resultado de alguns fatores. Primeiramente, uma falta clara de política do governo estadual para o setor de comunicação e cultura, refletida na TV. Em segundo, a TV não é administrada pelo Estado, tem perfil público e uma administração que guarda certa autonomia, impedindo que o governo se utilize da máquina da FPA para outros fins que não exclusivamente educativos e culturais. O que pode desinteressar certos setores políticos a investir na TV", esclarece Guto.
 
Para os dois dirigentes sindicais entrevistados pelo Correio, aquilo que tem sido levado adiante não representa nada mais do que uma ofensiva de cunho neoliberal, similar às que vimos avançar sobre diversos setores de nossa vida. "Como não se sabe o que fazer com aquilo, que aparentemente não tem serventia imediata (por falta de projeto político, necessidade de transparência e limitação quanto ao uso de sua máquina), abandona-se o projeto da emissora pública. Dessa forma, junta-se a fome com a vontade de comer e cria-se o caldo de cultura que os faz tentar levar adiante essa maluquice com a TV Cultura", explica Guto.
 
"Não sei de onde bateu essa idéia de desmonte, parece aquelas coisas do tempo do FHC e das privatizações. Aqueles mitos débeis mentais de que a iniciativa privada faz melhor. Se alguma coisa não está indo bem, você muda a administração, não joga ela fora!", completa Rose Nogueira.
 
Qualidade incontestável
 
Como se sabe, a emissora, principalmente por meio de seu canal televisivo, contribuiu sobremaneira para a formação cultural e educacional de amplos setores da população paulista, exatamente o contrário daquilo que oferecem as emissoras comerciais, com seu jornalismo francamente enviesado, ‘atrações’ com as mais torpes explorações de misérias humanas e completo rebaixamento intelectual.
 
"Ao longo dos anos, ela construiu essa imagem de oferecer uma programação de qualidade, uma espécie de oásis de bom gosto em meio ao que vemos aí", lembra Guto. Para ele, é exatamente essa a força que deverá sustentar a manutenção da Cultura tal como a conhecemos, longe das mãos do mercado e visões reducionistas de uma emissora cuja missão é prestar bons serviços à sociedade, que por sinal a sustenta.
 
"A Cultura foi fundada na ditadura militar, mas se construiu através do trabalho de seus funcionários. Foram basicamente os trabalhadores e algumas direções que resistiram à idéia de aparelhamento da TV e conseguiram transformá-la na melhor experiência que já tivemos em termos de TV pública", lembra Rose.
 
Ingerência política, resistência e solidariedade
 
Diante das ameaças, os trabalhadores da emissora buscam se defender. Nos espaços da mídia comercial, essas ameaças são travestidas de necessária transição ‘à modernidade’ ou ‘boa gestão’, como argumentou João Sayad, atual presidente da FPA. No entanto, esconde-se a total ingerência do governo Serra em sua gestão, que dialoga perfeitamente com processos semelhantes nas áreas de saúde, educação, rodovias etc.
 
Tanto é assim que, recentemente, a emissora demitiu os jornalistas Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli por fazerem matérias e questionamentos sobre os abusivos pedágios das estradas paulistas, política altamente rejeitada por setores da população, que paga as tarifas mais altas do mundo para circular pelo estado. Portanto, mesmo com o posterior recuo nas demissões, é absolutamente indisfarçável a interferência política nos rumos da Cultura, que nos últimos tempos ainda anunciou mudanças na programação, como no Roda Viva, agora apresentado por Marília Gabriela, e na tentativa frustrada de tirar do ar o programa ‘Manos e Minas’, voltado ao Hip Hop e outras manifestações culturais provenientes das periferias de São Paulo.
 
Aliás, foi exatamente essa empreitada que fez aumentar a resistência ao desmonte da Cultura, pois não se esperava a enorme onda de críticas relativas ao fim do programa, que já voltou à grade. "A questão do Manos e Minas, mesmo que ‘repaginado’ para livrar a cara dos gestores, demonstrou o quanto isso tudo mobilizou a sociedade, o quanto ela estranhou tal decisão. Portanto, não será nada fácil o governo levar a cabo esse projeto de desmontar a Cultura e transformá-la de produtora de conteúdo cultural em mera repetidora de conteúdos de terceiros, comprados no mercado", atesta Guto.
 
Além do mais, há uma grave questão em meio ao embate de visões acerca do papel da emissora: o futuro de seus funcionários. "É um absurdo alguém antecipar via imprensa a intenção de demitir 1400 funcionários em dezembro. É pedir pra criar uma crise. Não há razão alguma para esse desmonte", exclama Rose.
 
Quanto à resistência dos trabalhadores afetados, ambos os dirigentes entrevistados pelo Correio atestam que a mobilização dos funcionários é forte o bastante para lutar contra essa nova ofensiva pró-mercado. Mas, como não poderia ser diferente, o nível de tensão não fica atrás. "Creio que eles têm uma boa organização, mas mesmo assim estão apavorados, pois é algo que diz respeito a suas próprias vidas. Imagine um profissional com 10 anos de casa, dois filhos, pagando sua casa própria... como fica esse profissional?! Ninguém tem o direito de fazer isso aos outros", completa Rose, contemporânea de jornalistas que transformaram a Cultura numa representação de "resistência", como ela mesma diz.
 
Porém, pela maneira pouco habilidosa de conduzir a questão, o governo terá grandes dificuldades em promover mais um golpe ao patrimônio público. "Além de tudo, 1400 dispensas são demissão em massa, o que é caso para o Ministério Público do Trabalho. Perguntei para algumas pessoas como seriam pagas as indenizações e me disseram que poderiam vender o prédio. Mas, examinando a situação, descobri que não podem vender o prédio, pois é público. Não podem fazer isso", completa Rose.
 
"Os funcionários estão mobilizados, a rigor existem duas frentes de trabalho na Fundação: a interna, da TV e Rádio Cultura, e a externa, da TV Justiça e Assembléia, também com funcionários da Cultura que prestam serviços a elas. Um grupo tem de discutir diretamente o futuro da Cultura, e outro precisa se preocupar com o futuro das transmissões da TV Justiça e Assembléia, já que estão lotadas nesses outros canais", detalha Guto.
 
"Há belíssimos estúdios, uma maravilhosa equipe... vão fazer o quê? Demitir para comprar fora o mesmo produto que existe em casa, pagando o lucro dos outros? E essas produtoras vão empregar as pessoas com que salários, abaixo daqueles que recebiam?", questiona Rose.
 
De olho no futuro
 
Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, o que estamos a conferir é apenas mais um capítulo que antagoniza setores progressistas e retrógrados de nossa comunicação, que até hoje não se livrou dos monopólios que a controlam. De acordo com ele, o governo Lula levou ao menos a um início da conscientização de que mudanças na área são impreteríveis, além de representarem um forte anseio popular.
 
"Um ponto importante de ser colocado é o de que a TV Cultura não entrou na rede da TV Brasil, a EBC. Nem a Cultura de São Paulo e nem a TV Educativa do Rio Grande do Sul, ambos os estados sob governos do PSBD, conferindo caráter ideológico no sentido de não priorizar a TV pública. Não foi por acaso que não fizeram parte do projeto, recusando-o deliberadamente. Isso mostra uma diferença importante entre a visão do governo federal e a dos governos do PSDB", analisa.
 
Por conta disso, ele ressalta a importância da 1ª. Conferência Nacional da Comunicação, realizada em Brasília no final de 2009, escancaradamente desqualificada e boicotada pelos oligopólios soberanos de nossas comunicações.
 
"O governo Lula deixou vários problemas na comunicação sem solução. Alguns estão encaminhados, devendo ser finalizados no próximo governo, como as questões da banda larga, da digitalização etc. Ainda assim, destaco três coisas positivas: a realização da Confecom, um inegável avanço histórico; a criação da TV pública, início de um trabalho que é uma referência de respeito; e em último lugar, menos visível, mas significativo, o começo da discussão acerca da distribuição do dinheiro de publicidade", enumera.
 
"A Cultura conta com muita simpatia de vários espectros sociais, tanto do povo simples, trabalhadores e donas de casa, como também de estudiosos; dos setores mais populares aos mais intelectualizados, que se preocupam em manter as características especiais, peculiares, diferenciadas, da TV Cultura em relação às outras emissoras comuns", finaliza José Augusto Camargo.
 
É essa TV que educa que está sendo atacada. Enquanto isso, as demais navegam em mares sempre tranqüilos, desfrutando de enormes privilégios, a começar pela falta de fiscalização, contrapartida exigida de toda concessão para Rádio e TV. Prossegue, assim, o Brasil como um bastião praticamente imbatível da desigualdade, do que não escapa a arena da comunicação.
 
Gabriel Brito é jornalista.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Povo saharauí luta para derrubar o muro da opressão

Reproduzo matéria de Elaine Tavares em seu blog Palavras Insurgentes...

Os muros são coisas doidas, símbolo de separação. Há quem diga que eles servem para proteger. Mas há que perguntar. Proteger a quem? Se a gente parar para pensar vai ver que os muros têm suas origens no poder. Desde muito tempo eles são erguidos para que aqueles que têm muita riqueza se protejam de quem não tem. A lógica da propriedade privada, da acumulação privada da riqueza e da terra. Valeria pensar: mas por que é assim? Por que uns têm muito e outros nada? Ah, essa é a pergunta que ninguém se faz.

Contam que um dos primeiros grandes muros da história foi a muralha da China, idealizada no século VII a.C pelos imperadores da dinastia Zhou, dispostos a dividir a terra em dois pedaços. O deles e o dos outros. O trabalho começou em 221 a.C e terminou dois milênios depois. Mas, é bem possível que antes dele outros já tivessem sido erguidos. Relatos nos Vedas ou na Torá – livros sagrados de povos muito antigos – falam de castelos e muralhas, erguidas para proteger cidades e reinos de possíveis invasores. Os muros são sempre muito usados para separar povos, como, por exemplo, o Muro de Adriano, construído em 122 d.C, para dividir o mundo romano (civilizado) do mundo dos bárbaros. Parece que sempre foi muito difícil aos seres humanos uma vida em comunhão, sem o medo do “outro”.

Mesmo em Abya Yala, onde as comunidades tinham por princípio básico a idéia de vida coletiva, é possível encontrar registro de grandes muralhas protetoras como o forte Pucará de Quitor, no deserto de Atacama, Chile, erguido pelo povo likan-antay para enfrentar o avanço de tribos inimigas.

Nos tempos modernos, o muro mais famoso foi o Muro de Berlin, criado pelos soviéticos em 1961, materializando a cortina de ferro a separar o mundo comunista do capitalista. Durante anos ele foi uma espécie de símbolo da separação, da exclusão, da prisão e do ódio. Não havia quem, no chamado “mundo livre”, não clamasse pela queda daquele muro. Quando ele finalmente foi derrubado em 1989, as gentes em todo planeta saudaram esta vitória da “democracia e da liberdade”. A impressão que se tinha é que ali se encerrava uma triste etapa da vida humana, que nunca mais iria se repetir. E esta é uma coisa estranha de se pensar, se levarmos em conta que anos depois, em 1994, os Estados Unidos iniciavam um programa anti-imigração, chamado de Operação Guardião, que principiava a construção do odioso muro que separa o país ianque do México. Naqueles dias, ninguém se levantou para falar em ódios, exclusão ou falta de liberdade. Desde então, ali, naquela cerca, morrem milhares de pessoas tentando passar para o lado dos EUA, buscando viver a promessa do sonho americano. Raras pessoas no mundo falam desse muro ou se importam com as vidas que se perdem ali.

Depois, em 2002, o artificial estado de Israel, amigo e parceiro dos EUA, deu início ao seu muro, segregando o povo palestino em seu próprio território. Quilômetros e quilômetros de concreto dividem famílias e transformam um povo inteiro em prisioneiro, dando vazão a levas e levas de violência, dor e morte. Também são muito poucos os que se importam com isso. A mídia, como sempre do lado do poder, se encarrega de disseminar pelo mundo o preconceito e a mentira, atribuindo aos palestinos o rótulo de terroristas e bandidos. Raros são os que gritam pela queda deste muro. Ele aparece como algo necessário, para proteger o povo de Israel, embora nunca ninguém tenha cogitado que o Muro de Berlim existisse proteger o povo comunista da sanha do capital.

Pois não bastassem as excrescências dos EUA e Israel há um outro muro do qual muito pouco se fala. É o que separa o povo saharauí de seu território original no norte da África, região que permanece obscura e desconhecida para todos na América Latina.

O massacre do povo Saharauí: um pouco de história
O povo que vive no território reivindicado pelos Saharauí é muito antigo e habita aquela área desde quando os berberes brancos avançaram pelo norte do Sahara, no século VII, premidos pelas invasões árabes. Assim, eles foram jogados para a parte sul de onde hoje é o Marrocos, quando passaram a viver de forma autônoma. Os berberes são originários do norte da África e formam a gênese do povo do Marrocos. Na verdade, esse termo “berbere”, significa “bárbaro” e por isso é repudiado pelos seus descendentes que gostam de ser chamados de “amazigh” (homens livres). Mas, é parte deste povo de “homens livres” que hoje está sendo responsável pela desgraça do povo Saharauí.

O reino do Marrocos foi criado por volta do ano 470 a.C. e sempre esteve com os olhos mais voltados para a Europa que para seu interior. Ocupado pelos árabes no século VII, a região foi porta de entrada dos mouros para a península ibérica, onde reinaram por anos. Bem mais tarde, foi a vez do Império Romano anexar o Marrocos como colônia e foi só no século XI que os berberes reconquistaram seu território. Mas, a briga interna de vários clãs pelo controle do Marrocos o enfraqueceu e deu chance para a invasão de Portugal que, no século XV, no auge da expansão colonial, abocanhou algumas cidades. Foram muitos os anos de lutas para recompor o território. Na metade do século XIX, a Espanha e a França estenderam seus domínios pelo norte da África, ocuparam a área, e o espaço daquelas terras foi dividido. Em 1912 a parte do Marrocos ficou com os franceses, e a Espanha se apropriou da região norte e do Sahara ocidental, onde então viviam os saharauí.

Como em todas as colônias africanas, a ocupação não se deu sem luta. São históricos os massacres de revoltosos em batalhas nas quais Espanha e França se ajudavam contra os povos locais. O advento da segunda guerra mundial abriu caminho para novos movimentos de libertação e seguidos conflitos aconteceram. Em 1956, o Marrocos finalmente conquistou sua independência dos franceses, instituindo uma monarquia, mas a parte que estava nas mãos da Espanha não conseguiu o mesmo feito. Permaneceu colônia e, a exemplo dos marroquinos, as populações continuaram buscando a libertação. Por conta disso, em 1973 foi criada a Frente Popular de Libertação de Saguia-El-Hamra e Rio de Ouro (POLISARIO), que passou a liderar a luta na região ocidental.

Com a independência reconhecida, o Marrocos se organizou e começou a sonhar com novos vôos. Ambicionava anexar a parte espanhola da região, sem reconhecer que ali viviam povos autônomos, com cultura própria e igualmente sedentos de liberdade. Nos anos 60 e 70 vieram as vitoriosas lutas de libertação nacional em todo o mundo e, em particular na África, com várias colônias saindo do jugo de Portugal. Essa conjuntura leva a Espanha franquista a aceitar o princípio da autodeterminação nas regiões ocupadas, mas ainda sem se dispor a “largar o osso”. Então, no ano de 1975 quando o Marrocos, já livre da França, começa uma investida bélica na região ocidental do Sahara, a Espanha, igualmente ignorando as reivindicações do povo saharauí, assina um acordo entregando a região ao Marrocos e à Mauritânia. Com esta atitude vergonhosa, a Espanha cede ao rei Hassan II as riquezas naturais do Sahara ocidental, e com elas, o povo que ali vivia.

Ainda assim, o povo saharaui não se entregou. Tão logo as tropas espanholas saíram do território, em 27 de fevereiro de 1976, a Frente POLISARIO proclamou a República Árabe Saharauí Democrática (RASD). Segundo eles, ali estava um povo real e não seria um invasor que os colocaria na condição de “ninguém”. A própria Mauritânia reconheceu esse direito.

Mas, assim que viu garantida a soberania sobre o território até então espanhol, o governo do Marrocos, sem fazer caso da proclamação de independência saharauí, organizou uma grande marcha, conhecida como a “marcha verde” (na verdade um processo de colonização), na qual mais de 350 mil pessoas migraram para a região do Sahara ocidental, tendo a frente uma unidade de infantaria repleta de blindados, numa clara demonstração de força. Como as terras estavam tradicionalmente ocupadas pelo povo saharauí, as tropas marroquinas não hesitaram em iniciar uma campanha brutal de desalojo. Chegaram ao ponto de utilizar bombas de fósforo e napal, causando terríveis sofrimentos aos povos que ali viviam e obrigando-os a uma retirada em massa. Grande parte buscou abrigo na Argélia e outra parte seguiu lutando.

Desde então, múltiplas resoluções das Nações Unidas, da União Africana e um acórdão do Tribunal Internacional de Justiça de Haia reconhecem o direito à autodeterminação do povo saharauí, entendendo que não há registro jurídico nem histórico de vínculo de soberania por parte do Marrocos naquele local. Mais de 80 países do mundo reconhecem a RASD, mas isso fica só no papel.

A luta do povo saharauí não deu trégua este tempo todo, e no final dos anos 80, com a intermediação da ONU, o governo do Marrocos e a POLISARIO aceitaram um acordo, no qual o Marrocos retiraria suas tropas da região e realizaria um plebiscito com o povo para que este escolhesse entre a independência ou a anexação ao Marrocos. Mas, o certo é que isso nunca se concretizou e o governo marroquino se recusa a aceitar a autodeterminação dos saharauí.

Já são mais de 35 anos de luta, e a Frente Popular de Libertação tem cedido muito mais do que o Marrocos, se dispondo inclusive a depor as armas e libertar prisioneiros, mas não encontra eco no governo marroquino.

A situação hoje
É nesse contexto de intransigência que o Marrocos deu início a construção de um muro, dividindo a região do Sahara ocidental, visando segregar ainda mais as gentes saharauí, impedindo-as de viverem em paz no seu território. Hoje, parte do povo, sem poder ocupar seu território original, vive em terras cedidas pela Argélia, na condição de refugiados, em acampamentos desprovidos de qualquer condição de dignidade.

O muro da vergonha do Sahara Ocidental tem mais de dois mil quilômetros e divide de norte a sul o território. Vigiado por mais de 150 mil soldados marroquinos o percursos ainda apresenta uma infinidade de minas que, vez ou outra, provocam mortes entre os saharauí ou mesmo entre militantes internacionalistas que fazem periódicas marchas e manifestações no muro. Segundo a ONU há um cessar-fogo vigiado por uma missão de cascos-azuis, mas isso não impede que o Marrocos siga acossando a gente saharauí.

O fato é que o regime monárquico, ainda em vigor no Marrocos, se recusa abrir mão das inúmeras riquezas do Sahara ocidental. Entre elas está a magnífica costa Saharauí, que toma parte do Mediterrâneo e parte do Oceano Atlântico. Ali está um dos bancos de pesca mais ricos do mundo, hoje ocupado pelo Marrocos. Também se fala de grandes reservas de petróleo, com algumas áreas já sendo exploradas na parte que está sob o domínio do Marrocos. Igualmente fazem parte do pano de fundo da disputa de território as abundantes minas de fosfato que estão na parte ocidental do Sahara, portanto, devendo pertencer à República Saharaui, mas que seguem sendo exploradas pelo Marrocos.

Numa visita às páginas da Internet ou ao Youtube qualquer pessoa pode ver as terríveis condições de vida da gente saharauí nos acampamentos em meio ao deserto. É por isso que a Frente de Libertação insiste na busca de solidariedade mundial e no reconhecimento da República Árabe Saharauí Democrática como um Estado independente. As gentes do deserto da áfrica ocidental estão aí, a provar que os muros continuam sendo fortes mecanismos de opressão e segregação por parte daqueles que detém poder militar e político. Mas o povo saharauí também mostra, a exemplo dos palestinos e dos milhões de imigrantes, fugitivos do capitalismo, que não há canhão capaz de frear a luta por vida digna, por território e por liberdade. Como bem mostra a história, os muros acabam caindo. Sempre!

Viva a luta do povo saharauí!

A rapa do tacho


Como seu candidato preferencial tornou-se um anti-candidato, ou permanente anti-candidato a candidato, tudo o que resta a ambos – candidato a candidato e a mídia que o anima – é procurar rapar o tacho dos eleitores indecisos ou sensíveis a denúncias vazias para tentar levar a eleição a um segundo turno.

Enquanto a nossa mídia convencional continua, no seu tanque de roupa suja, a avacalhar o presidente Lula e a candidata Dima Rousseff, o “think tank” do International Institute for Strategic Studies atribuiu a ele e sua política externa a maior e melhor projeção que o Brasil alcançou no mundo, nos últimos tempos.

Em seu relatório (Strategic Survey 2010: The Annual Review of World Affairs) deste ano o Instituto destaca como o mundo passa por uma reavaliação das suas ordens de poder, depois da crise começada em 2008. Nesse cenário de mudanças o peso da América Latina cresceu, e o do Brasil foi potenciado pela abertura para vários cenários propiciada pela política externa do governo Lula, solidamente ancorada nas políticas sociais internas e no prestígio que isso trouxe a ele e ao país.

Diante de tais pesos e tais medidas, não surpreende a renitente insistência da campanha das oposições de direita em malhar o ferro frio das denuncias de ocasião, tenham fundamento ou não.

Como seu candidato preferencial tornou-se um anti-candidato, ou permanente anti-candidato a candidato, já que nada tem a oferecer a não ser vagas assertivas sobre “ser melhor” do que o presidente que ora encerra dois vitoriosos mandatos, tudo o que resta a ambos – candidato a candidato e a mídia que o anima – é procurar rapar o tacho dos eleitores indecisos ou sensíveis a denúncias vazias para tentar levar a eleição a um segundo turno. Isso, nessa altura, seria cantado em prosa e verso como uma “derrota” para Dilma, e animaria o por ora desanimado e tedioso campo dessas oposições sem mais assunto.

Na base desse comportamento está o progressivo descolar-se desse conjunto – candidato a anti-candidato e a mídia – da real situação por que o país e o mundo atravessam.

É de se perguntar em que mundo eles vivem, e o que de fato farão se tiverem algum êxito em suas manobras.

Fico pensando em como o candidato a candidato, se se assentasse no trono de seus sonhos, enfrentaria uma reunião da Unasul depois de ter chamado o presidente boliviano de cúmplice (mesmo que seja por omissão) do narcotráfico. Se foi uma bravata, ele agora está preso a ela, porque se desse um claro desmentido de suas afirmações, perderia os votos que com ela rapou no tacho.

A mídia conservadora, seus arautos e seu candidato do vir-a-ser (pois a cada dia anuncia que é uma coisa diferente da de ontem) não conseguem admitir que vivem num mundo em que a subserviência automática não rende mais dividendos no plano externo. E não conseguem ver também que, ao denegar ao ostracismo esse relativamente novo Brasil e sua navegação no mundo real das políticas sociais e da política externa, ferem e procuram cortar o fio da auto-estima melhorada que foi tomando conta da população durante os dois governos Lula.

Isso aumenta o isolamento, que aumenta o ressentimento, que aumenta o isolamento, que aumenta...

Esse imaginário conservador é que permanece, com todas suas modernidades e pós-modernidades, imerso no mundo da Casa Grande e da Senzala: à Senzala o que é da Senzala, isto é, o silêncio e a subserviência. À Casa Grande o que é da Casa Grande: a política e o poder de mando indiscriminado sobre os subalternos. Além da subserviência aos grandes do planeta, é claro.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.