domingo, 9 de janeiro de 2011

BES VAKIT / O TEMPO E O VENTO - 2006-Cinema Turco


Título Original: Bes Vakit
Direção: Reha Erdem
Roteiro: Reha Erdem
Gênero: Drama
Origem: Turquia
Ano De Lançamento: 2006
Música: Arvo Pärt
Fotografia: Florent Herry
IMDB


POST EM PARCERIA COM O FONFAGU !!

SINOPSE:

Em um pequeno vilarejo do interior da Turquia, um grupo de crianças tenta sobreviver às dificuldades do cotidiano por meio da imaginação e da integração com a natureza suas estações do ano. Obra-prima do cinema turco (vencedora do Prêmio Especial do Júri no Festival de Roma/2006) dirigida com notória emoção por Reha Erdem. Remete a outro sucesso infanto-juvenil, o israelense "Exuberante Deserto".

Informações Do Arquivo:

Formato: MVCD
Qualidade: DVDRip
Áudio: Turco
Duração: 111 Min
Cor
Tamanho: 781 MB (dividido em 4 partes)

DOWNLOAD:

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legendas português/BR:

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Elenco:

Ozen Ozkan
Ali Bey Kayali
Bulent Yarar
Taner Birsel
Yigit Özsener
Selma Ergeç
Tarik Sönmez
Köksal Engür
Tilbe Saran
Sevinç Erbulak
Nihan Asli Elmas
Cüneyt Türel
Utku Baris Sarma
Eren Akan
Sükran Üçpinar
Sencer Sagdiç
Ali Sahinbas

O Filme:

Bes Vakit é um retrato da vida familiar nas áreas rurais da Turquia centrada na vida de três crianças: Omer, Yakup e Yildiz. A aldeia em que vivem é um tanto desorganizada, muitas casas já demonstram sua idade e as estradas desgastadas e vacilantes. O ambiente, por outro lado, é extremamente belo, que vão desde florestas verdejantes a espetaculares falésias e ao mar brilhando gloriosamente. O Diretor Reha Erdem faz uso da Steadycam para controlar os personagens quando eles viajam através da aldeia e da paisagem rural, criando uma sensação de que o pequeno povoado e seus arredores são um grande todo.
A vila, porém, não é um lugar harmonioso: há grande desconfiança entre gerações diferentes, do mais velho ao mais novo, e Omer, Yakup e Yildiz estão nesse meio. Os três filhos mais novos ganham o desgosto e a decepção de seus antepassados, e por sua vez, tornam-se desiludidos e rancorosos.

O pai de Omer está sempre desapontado com seu filho mais velho, e pouco faz para esconder a sua preferência por Ali, o irmão mais jovem brilhante de Omer. Omer começa a planejar maneiras de matar seu pai, que já está sofrendo com os efeitos de uma doença. Enquanto isso, Yakup, amigo de Omer, é repreendido por seu pai, por tentar roubar cigarros, mas descobre - para sua consternação - que está sendo ministrado por uma hipócrita moral. As mulheres da aldeia não estão livres deste ciclo fútil onde os velhos alienam os jovens e os jovens se ressentem da idade: Yildiz, uma menina jovem e inteligente, tem que cuidar do seu irmão, ainda bebê, em nome de sua mãe, e sofre cada vez mais sob o estresse da responsabilidade.

Não é à toa que, em suas complicadas famílias ingratas a vida destas crianças anseiam por uma fuga, e assim eles se reúnem no deserto em torno de sua aldeia para planejar , brincar e sonhar. Imagens recorrentes mostram os jovens filhos de bruços - morto ou dormindo - no deserto, um triste reflexo de um mundo onde já se sente o desapontamento.

Isso não quer dizer que este é um retrato sombrio da vida na Turquia rural. Ele está torcendo para ver o trabalho feito pelos membros da comissão de vila, que se reúnem para discutir questões prementes do local. Eles condenam o espancamento de um jovem pastor local por seu pai e organizam a construção de um novo telhado para uma senhora idosa melhor se ajustar com a proximidade do inverno. Existem também alguns momentos engraçados em Bes Vakit, incluindo as cenas onde as crianças riem com a procriação dos animais. Embora, mesmo tais cenas, sejam, em última análise permeada com a mesma tristeza encontrada ao longo do filme: os meninos pegam as meninas assistindo a um par de cavalos copulando e afastá-as, na crença de que as meninas não devem ter permissão para ver tais coisas. Em um lugar onde as figuras religiosas, aquém dos altos ideais a que aspiram, é triste ver o comportamento errado inspirado na cabeça dessas crianças.

O filme encontra a companhia perfeita na música do compositor finlandês Arvo Part. As cordas sombrias e assustadoras que incham periodicamente ao longo do filme mistura-se com os sons da natureza e da vida cotidiana, e chama-nos a refletir o tormento das relações humanas contra o mais sereno e belo de cenários. Apesar de quase duas horas de duração Bes Vakit não se torna um filme lento. Há tantos personagens e incidentes que o filme pode ser um pouco confuso em alguns pontos, mas é implacável e envolvente. Bes Vakit é notável por ter surgido aparentemente do nada e ter chamado (merecidamente) a atenção para o novo cinema oriundo da Turquia.

Sagrados elos imobiliários


Comerciantes árabes da rua Al-Silsila tentam resistir ao assédio de empresários judeus

Imagine uma corrente. Você vê as extremidades, mas não vê o elo entre as duas pontas. Você precisa juntar os pontos extremos para entender o todo”, diz, com ar de mistério, Ahmad, jovem comerciante da rua Al-Silsila, em Jerusalém. O árabe palestino explica sua metáfora e diz que, para entender a cidade sagrada para as três grandes religiões monoteístas do mundo é necessário ver todos os elos da corrente e juntá-los. Chamada de rua de Davi pelos judeus, Al-Silsila significa “corrente” em árabe. A estreita via é uma das principais passagens entre dois mundos: o caminho do bairro judeu ao árabe, ou vice-versa. Repleta de lojas de comidas típicas e de artesanatos palestinos, não poucos feitos na China, leva da Porta de Jaf-fa Grande Mesquita do Domo da Rocha e traça o limite com o bairro judeu, onde se encontra o Muro das Lamentações.
No meio da “rua da Corrente”, dois policiais – um israelense de origem árabe e outro judeu – perguntam aos que se encaminham à mesquita se são muçulmanos. É sábado e os turistas não têm permissão para entrar. Para os judeus, é onde Abraão ofereceu seu filho Isaac em sacrifício a Deus e o rei Salomão construiu o primeiro templo. Já os muçulmanos acreditam ter sido o local de onde o profeta Maomé viajou aos céus (Al-Miraaj). “Eu, particularmente, não vejo problema que os turistas passem, mas os policiais o fazem para evitar confusão. Pode entrar algum judeu com uma Torá e irritar os muçulmanos”, explica Ahmad. “Os judeus fazem isso para prejudicar o comércio aqui na rua e forçar-nos a vender nossas lojas”, opina Omar Jobah.
Jobah apareceu no início de dezembro em um canal de televisão palestino denunciando o movimento de empresários judeus que tentam comprar lojas de árabes em Jerusalém. Aos 58 anos, casado e pai de sete filhos, tira por mês cerca de 3,5 mil shekels (cerca de 2 mil reais, salário mínimo em Israel). Por ano paga 5 mil shekels em impostos pela propriedade do estabelecimento comercial ao governo israelense, 12% sobre as vendas e mais 5% em taxas extras. “Toda hora eles aparecem aqui querendo comprar. Os judeus já me ofereceram 750 mil dólares, mas não vendo nem por 1 milhão. Minha família está aqui há 200 anos.”
O comerciante tenta convencer os demais a não vender suas lojas a judeus. “Ele é como nosso líder aqui na rua. Eu não venderia minha loja (que está em frente a uma madrassa, escola da religião islâmica), nem por 5 milhões de dólares. Se começarmos a vender tudo aos judeus, a rua vai perder seu caráter”, explica Hamed, dono da última loja árabe no caminho à mesquita.
O judeu Itzik Gurevich, da Organização de Construtores de Israel, explica: “Há grupos que tratam de adquirir, de comprar propriedade dos árabes palestinos, sob a ideologia religiosa de direita de Israel”. Na cidade sagrada, muitos empresários organizam-se na Elad, associação de colonos judeus ativa nos bairros árabes de Jerusalém Oriental. “Eles pensam que toda a parte de Jerusalém onde estão os palestinos também pertence a eles.” Segundo Gurevich, a compra de propriedades é uma transação legal – não há qualquer legislação que impeça transações imobiliárias entre judeus e árabes, palestinos e israelenses. “Mas quando esses grupos adquirem a propriedade e se instalam, começam a formar centros de provocação. Isso aumenta a tensão nesta zona da cidade.”
Ao mesmo tempo, os palestinos não se sentem livres para vender suas lojas a judeus. “Há uma espécie de castigo para os árabes que vendem os imóveis. Na longa rua de Al-Silsila, com um total de 123 lojas, há apenas dois proprietários judeus que conseguiram comprar o estabelecimento de árabes. “Os dois (árabes) ficaram muito malvistos pela comunidade por terem vendido suas lojas”, afirma Jobah. “Há posições radicais por ambas as partes. A base da aquisição das propriedades é provocativa, não é econômica. Não é algo ingênuo”, analisa Gurevich.
Na outra ponta da corrente, dezenas de rabinos estimulam os cidadãos a não vender nem alugar casas para não judeus. No início de dezembro, uma carta aberta de 41 rabinos alegou que a tensão entre árabes e judeus aumentou com o impasse do processo de paz e reclamaram da entrada de imigrantes ilegais africanos. “A terra de Israel é destinada ao povo de Israel”, disse à rádio do Exército de Israel, Yosel Shainin, rabino-chefe da cidade portuária de Ashdod e um dos signatários do texto. A Associação de Direitos Civis de Israel (Acri) e parlamentares de oposição exigiram que o premier israe-lense, Benjamin Netanyahu, condenasse a carta e punisse os rabinos. “Isso obriga, de uma vez por todas, o indiciamento deles por incitação racial”, disse o parlamentar árabe israelense Ahmed Tibi. De forma surpreendente, Netanyahu considerou a carta antidemocrática e afirmou que contradizia os livros sagrados, recordando a história de discriminação sofrida pelo povo judeu. “Israel rejeita completamente estes comentários (dos rabinos).”
Na cidade de Hebron, na Cisjordânia, em território palestino, o lobby para compra e venda de lojas de palestinos por israelenses judeus se repete. Aos 77 anos, Mohamed é um dos poucos que mantêm sua loja de ferragens aberta na rua Ashuhadek. Muitos negociantes venderam os imóveis ou simplesmente fecharam as portas. “A rua está praticamente fechada e quase ninguém passa por aqui. A Autoridade Palestina me dá mil shekels por mês. Venho trabalhar para me divertir.”
Uma mureta com cerca de 60 centímetros de altura e um check point com dois soldados israelenses separam o comerciante palestino Munear Abid, 58 anos, de seus clientes árabes no final da Ashuhadek. Ele é um dos donos das quatro últimas lojas árabes que ficaram do “lado judeu” de Hebron. Munear lembra que, quando era pequeno, árabes e judeus circulavam pela cidade livremente. Mas em 1994, durante o processo de paz de Oslo, o colono judeu Baruch Goldstein disparou contra muçulmanos que rezavam na Mesquita de Ibrahim – ou na Cava de Machpela, onde se diz que estão enterrados os restos de Abraão –, e matou 29 pessoas. Em fevereiro de 1997, um acordo para a redistribuição das forças de defesa israelenses dividiu a cidade em duas áreas: H1, controlada pela Autoridade Palestina, e H2, sob controle militar israelense. Depois da segunda Intifada, em 2000, e o aumento da violência entre os dois lados, as FDI tomaram o controle de toda a cidade e vários check points foram criados a partir de 2003 na área H1.

Divisão do Sudão pode gerar problemas internos e externos, alertam especialistas africanos

por Eduardo Castro no OperaMundi

Apontado pela comunidade internacional como um “marco para a consolidação da paz” no Sudão, a consulta popular que deve dividir o maior país da África inquieta estudiosos africanos consultados pela Agência Brasil.

De hoje (09/01) até 15 de janeiro, os sudaneses do Sul votam na consulta popular prevista no acordo de paz que pôs fim à guerra civil, que durou mais de 20 anos no país. Quatro milhões dos 40 milhões de sudaneses irão dizer se querem ou não que a parte Sul torne-se uma nação independente. Os resultados serão homologados em fevereiro.


Para o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, um dos observadores internacionais, “o referendo é um passo crítico no sentido da implementação do acordo de paz”. Segundo ele, citado pelo Carter Center, a expectativa é de que “o processo ajude o povo do Sudão a trabalhar em um futuro pacífico, independentemente do resultado [da votação]”.


O centro presidido por Carter enviou mais de 100 observadores para acompanhar a consulta popular sudanesa. O ex-secretário-geral da ONU, o ganês Kofi Annan, também estará presente. “É importante que todos os líderes políticos honrem os compromissos para manter a paz no Sudão, como o previsto no acordo de paz”, afirmou.


Reprodução/Wikipedia
 
A área em azul votará sobre separação; verde é Darfur


Mas, entre os analistas africanos, a certeza não é tão grande. “Isto não é bom na história política de África”, afirma Aly Jamal, doutor em Relações Internacionais e especializado em conflitos africanos. “Isso pode ser um mal exemplo para alguns países onde as circunstâncias não são iguais, mas podem ser procuradas para justificar o uso do mesmo caminho”, disse. “Já temos o caso do Congo, a República Centro Africana... se um rastilho semelhante ocorre por aquelas bandas, vamos fazer referendo para autodeterminação?”, pergunta Aly Jamal.


Citado pelo jornal moçambicano O País, o investigador do Instituto de Ciências Políticas em Paris, o sudanês Roland Marchal, chama o processo no Sudão de “Berlim 2”, lembrando que foi na Conferência de Berlim, em 1885, que as potências europeias dividiram a África entre si, demarcando fronteiras sem levar em conta, em muitos casos, aspectos culturais, sociais e étnicos das comunidades atingidas.


Para a professora Iraê Baptista Lundin, do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique e que participou do grupo que negociou a paz para guerra civil do país (entre 1992 e 1994) trata-se da quebra de outro tratado, mais recente. “Em 1963, quando foi criada a Organização dos Estados Africanos, foi definido que as fronteiras iriam permanecer, para não criar mais problemas. Já quebramos esse tratado quando separou-se Eritreia da Etiópia (em 1993). Se acontecer a separação do Sudão será a segunda vez.”


Entretanto, lembra a professora, a Eritreia já havia existido como estado separado, o que não ocorre com o Sudão do Sul. Em 1962, logo depois da independência da Itália, a Eritreia foi anexada à Etiópia. Após uma guerra de mais de 30 anos, votou a favor da sua separação em 1993.


“O ideal teria sido discutir mais autonomia, instituir o federalismo”, defende Iraê Lundin. “Nigéria e África do Sul têm, hoje, estados federados. A história mostra que é possível encontrar outras saídas. Tenho receio de que [a possível divisão] vá exacerbar um conflito que, neste momento, está latente – e é um dos mais antigos de África.”


O professor Aly Jamal concorda. “A comunidade internacional ficou satisfeita com a simples ideia de 'vamos fazer a paz. Vamos determinar o que que eles querem'... Mas não foi atrás daquilo que, objetivamente, tem a sido causa de todos os problemas”, afirma. “Se, pelo menos, o referendo ocorresse com uma delimitação bastante clara sobre o traçado de fronteira, traria mais tranquilidade. Mas isso ficou para depois”.


Os especialistas dizem, porém, que o temor não é de um conflito imediato. “O Sul não tem interesse em entrar numa guerra logo depois de formar-se como estado autônomo”, diz Aly Jamal. “Nem o Norte, certamente, quererá se envolver nisso”. O tempo até que a tesão renasça não depende só dos sudaneses. “Quem tem interesse no petróleo e nas outras riquezas que estão ali vai tem um importante papel na moderação”, diz Aly Jamal. “Com um país ou dois, elas vão continuar existindo”. Apontado pela comunidade internacional como um “marco para a consolidação da paz” no Sudão, a consulta popular que deve dividir o maior país da África inquieta estudiosos africanos consultados pela Agência Brasil.


Pesadelo sionista: Israel nunca foi, não é e jamais será um Estado judeu


Ramez Philippe Maalouf* via blog do bourdoukan


Um dos maiores mitos já disseminados na mídia internacional e, inclusive, nos meios acadêmicos, é definir Israel como “Estado judeu” (motivo pelo qual uso aspas sempre que escrevo a referida alcunha).

Israel jamais foi, não é e jamais será um Estado judeu.

Até porque é pouco provável que governo e população do Estado de Israel sigam os princípios do judaísmo.

Não surpreende, portanto, que a maioria dos judeus (ou aqueles que afirmam ser judeus) prefira viver fora do Estado que, a princípio, deveria protegê-los.

A despeito das questões éticas e morais, a realidade demográfica (Demografia é uma ciência maldita, banida da academia, especialmente no Oriente Médio, inclusive no mundo árabe) insiste refutar este mito.

Proporcionalmente, há mais árabes em Israel (cerca de 1.500.000 ou 20,1% da população israelense dentro das fronteiras de 1967,) do que curdos no Iraque (17%) e negros nos EUA (13%), só para termos de comparação.

Se considerarmos as populações da Faixa de Gaza (1.600.000) e da Cisjordânia (2.400.000), bloqueadas e sob ocupação militar sionista desde 1967, a proporção de árabes na população total sob o controle do governo israelense (11.600.000) sobe para cerca de 47,4%, alcançando 5.500.000 em termos absolutos, em  2010.

Como a população supostamente judia alcança a cifra de 5.700.000 (49,1% da população total e cerca de 75% dos habitantes dentro das fronteiras de 1967), calcula-se que em 2014, a número de árabes vivendo sob o domínio de Israel alcance a mesma cifra de judeus (50%/50%), colocando em xeque a suposta identidade judaica de Eretz Yisrael, expondo o fracasso do projeto sionista.

A bomba demográfica palestina está detonando Israel, explicando, em grande medida, os motivos do Massacre de Gaza, na virada de 2008 para 2009, que exterminou mais de 1.400 palestinos, dos quais 1/3 eram crianças. Um dos objetivos do Massacre era forçar a retirada dos palestinos para o Egito (cujo governo, irônica e covardemente, dera sinal verde para o ataque israelense), para diminuir a pressão demográfica palestina sob o domínio sionista.

Egito e Israel são aliados de velha data. Em 1948, durante a chamada Guerra de Independência de Israel, os egípcios fizeram um acordo com os sionistas (a semelhança do que os hachemitas transjordanos fizeram com os líderes sionistas com relação à Cisjordânia); a Faixa de Gaza e o Negev seriam “cedidos” ao governo de Cairo em troca da Paz com o “Estado judeu”. Entretanto, no decorrer da guerra, os sionistas preferiram “ceder” apenas a Faixa de Gaza, retendo o domínio sob o Negev.  Mais de 750 mil árabes palestinos foram expulsos da Palestina, destruída pela fundação de Israel, outros 160 mil árabes (incluindo milhares de druzos, que não se consideram palestinos) permaneceram no novo Estado hebreu. O Egito ocupou a Faixa de Gaza até 1967, quando foi atacado pela aviação israelense, que passou a ocupar também a Península do Sinai. As vitórias egípcias nas Guerras de Atrito (1967-70) e do Yom Kippur (1973) levaram os israelenses às negociações, acordos e tratado de Paz, concluídos com a devolução do Sinai ao governo de Cairo, em janeiro de 1982, para tão somente abrir caminho para a grande invasão israelense do Líbano em junho do mesmo ano, que exterminou mais de 25 mil árabes em 70 dias de ataques.

Calcula-se o total refugiados palestinos em todo mundo alcance a cifra de 5,6 milhões. Se metade deles retornassem à Palestina histórica, como demanda a resolução 194 da ONU, o país voltaria a ter a mesma proporção de árabes e judeus residentes no país (60%/40%) antes da Guerra de 1947-49, que resultou na expulsão de mais de 750 mil palestinos.

Acredita-se que em 2020 esta proporção alcance a cifra de 25% dos residentes no país, dentro das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias (1967). A demanda pelo caráter binacional do suposto Estado judeu continuaria.

A demografia, como visto, está fazendo com que a Palestina renasça como um Estado de maioria árabe, como sempre foi há milênios.


[*] Especialista em História das Relações Internacionais pela UERJ e Mestrando em Geografia Humana pela USP

sábado, 8 de janeiro de 2011

A crise irlandesa: fracasso total do neoliberalismo

por Eric Toussaint
Cartoon de Steve Bell. 
Durante uma década a Irlanda foi apresentada pelos promotores mais fervorosos do capitalismo neoliberal como o modelo a seguir. O "tigre celta" ostentava uma taxa de crescimento mais elevada do que a média europeia. O taxa de tributação das empresas havia sido reduzida a 12,5% [1] e a taxa efectivamente paga pelas numerosas transnacionais que ali tinham domicílio oscilava entre 3% e 4%: um sonho! Um défice orçamental igual a 0 em 2007. Uma taxa de desemprego de 0% em 2008. Um verdadeiro encanto: todo o mundo parecia ali encontrar o seu quinhão. Os trabalhadores tinham um emprego (é certo que muitas vezes precário), as suas famílias consumiam alegremente, elas desfrutavam do efeito riqueza e os capitalistas, tanto nacionais como estrangeiros, ostentavam resultados extraordinários.

Em Outubro de 2008, dois ou três dias antes de o governo salvar da falência os grandes bancos "belgas" (Fortis e Dexia) a expensas dos cidadãos, Bruno Colmant, director da Bolsa de Bruxelas e professor de economia, publicou um artigo em Le Soir, o diário belga francófono de referência, no qual afirmava que a Bélgica devia absolutamente seguir o exemplo irlandês e desregulamentar ainda um pouco mais o seu sistema financeiro. Segundo Bruno Colmant, a Bélgica devia modificar o quadro institucional e legal a fim de se tornar uma plataforma do capital internacional como a Irlanda. Algumas semanas mais tarde, o Tigre Celta estava de rastros.

Na Irlanda, a desregulamentação financeira encorajou uma explosão dos empréstimos às famílias (o endividamento familiar havia atingido 190% do PIB na véspera da crise), nomeadamente no sector do imobiliário, o que estimulou a economia (indústria da construção, actividades financeiras, etc). O sector bancário inchou de uma forma exponencial com a instalação de numerosas sociedades estrangeiras [2] e o aumento dos activos dos bancos irlandeses. Formaram-se bolhas bursáteis e imobiliárias. O total das capitalizações bursáteis, das emissões de obrigações e dos activos dos bancos atingiu catorze vezes o PIB do país.

Aquilo que não podia acontecer neste mundo encantador aconteceu então: em Setembro-Outubro de 2008, o castelo de cartas ruiu, as bolhas financeiras e imobiliárias explodiram. Empresas fecham ou deixam o país, o desemprego sobe em flecha (de 0% em 2008, ele salta para 14% no princípio de 2010). O número de famílias incapazes de pagar os credores cresce muito rapidamente. Todo o sistema bancário irlandês está à beira da falência e o governo, completamente em pânico e cego, garantiu o conjunto dos depósitos bancários com 489 mil milhões de euros (cerca de três vezes o PIB irlandês, que se elevava a 168 mil milhões de euros). Ele nacionaliza o Allied Irish Bank, principal financiador do imobiliário, injectando 48,5 mil milhões de euros (cerca de 30% do PIB).

As exportações enfraquecem. As receitas do Estado baixam. O défice orçamental salta de 14% do PIB em 2009 para 32% em 2010 (mais da metade é atribuível ao apoio maciço aos bancos: 46 mil milhões de injecção de fundos próprios e 31 de compra de activos de risco).

O plano europeu de ajuda do fim de 2010, com participação do FMI, eleva-se a 85 mil milhões de euros de empréstimos (dos quais 22,5 fornecidos pelo FMI) e já se verifica que será insuficiente. Em contrapartida, o remédio de cavalo imposto ao tigre celta é de facto um plano de austeridade drástico que pesa fortemente sobre o poder de compra das famílias, tendo como consequências uma redução do consumo, das despesas públicas nos domínios sociais, dos salários da função pública e na infraestrutura (em proveito do reembolso da dívida) e das receitas fiscais.

As principais medidas do plano de austeridade são terríveis no plano social:
  • supressão de 24750 empregos de funcionários   (8% do efectivo, o que equivale à supressão de 350 mil empregos em França);
  • os novos contratados receberão um salário 10% inferior;
  • baixa das transferências sociais com diminuição dos subsídios de desemprego e familiares, redução importante do orçamento da saúde, congelamento das pensões;
  • aumento dos impostos suportados principalmente pela maioria da população vítima da crise, nomeadamente alta do IVA de 21 para 23% em 2014; criação de uma taxa imobiliária (afecta a metade das famílias, até então livres de tributação);
  • baixa de 1€ do salário horário mínimo (de 8,65 para 7,65 euros, ou seja, -11%).
As taxas dos empréstimos concedidos à Irlanda são muito elevadas: 5,7% para o do FMI e 6,05% para os empréstimos "europeus". Eles servirão para reembolsar os bancos e outras sociedades financeiras que comprarão os títulos da dívida irlandesa — as quais tomam emprestado a uma taxa de 1% junto ao Banco Central Europeu. Um verdadeiro presente dos deuses para os financeiros privados. Segundo a AFP, "o director geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, declarou: "Isto vai anda, mas naturalmente é difícil [...] porque é duro para as pessoas' que terão de fazer sacrifícios em nome da austeridade orçamental".

A oposição na rua e no parlamento foi muito forte. O Dail, câmara baixa, adoptou o plano de ajuda de 85 mil milhões de euros apenas por 81 votos contra 75. Longe de abandonar a sua orientação neoliberal, o FMI indicou que colocava dentre as prioridades da Irlanda a adopção das reformas para suprimir "os obstáculos estruturais aos negócios", a fim de "sustentar a competitividade nos próximos anos". O socialista Dominique Strauss-Kahn diz-se convencido de que a chegada de um novo governo após as eleições previstas para o princípio de 2011 nada mudaria: "Estou confiante em que, ainda que os partidos da oposição, o Fine Gael e o trabalhista, critiquem o governo e o programa [...], eles compreendem a necessidade de o por em execução".

Em suma, a liberalização económica e financeira que visava atrair a qualquer preço os investimentos estrangeiros e as sociedades financeiras transnacionais conduziu a um fracasso completo. Para aumentar o insulto aos danos sofridos pela população vítima desta política, o governo e o FMI não encontraram nada melhor do que aprofundar a orientação neoliberal praticada desde há 20 anos e infligir à população, sob a pressão da finança internacional, um programa de ajustamento estrutural calcado sobre aqueles impostos desde há três décadas aos países do terceiro mundo. Estas três décadas devem ao contrário servir de exemplo daquilo que não se deve fazer. Eis porque é urgente impor uma lógica radicalmente diferente, em favor dos povos e não da finança privada.
Notas
|1| A taxa de tributação dos lucros das empresas eleva-se a 39,5% no Japão, 39,2% na Grã-Bretanha, 34,4% em França, 28% nos Estados Unidos.
|2| As dificuldades do banco alemão Hypo Reale Estate (salvo em 2007 pelo gouverno de Angela Merckel) e a falência do banco Bear Sterns nos EUA (comprado em Março de 2008 pelo J.P. Morgan com a ajuda da administração Bush) provém nomeadamente dos problemas dos seus fundos especulativos cuja sede era em Dublim.


P.S.
Este artigo inspirou-se num Power Point realizado por Pascal Franchet (" Actualité de la dette publique au Nord ").

O original encontra-se em http://www.cadtm.org/La-crise-irlandaise-fiasco-complet


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

1961 in Baden-Baden Germany




1961 in Baden-Baden Germany

John Coltrane - soprano sax, tenor sax
Eric Dolphy - flute, alto sax
McCoy Tyner - piano
Reggie Workman - bass
Elvin Jones - drums

Passaportes dos filhos de Lula são legais

por Eduardo Guimarães em seu blog


Nos últimos dias, a “dobradinha” entre mídia e oposição a que se referiu , em dezembro, o então ministro da Comunicação Social do governo Lula, Franklin Martins, apareceu de novo, provavelmente como prenúncio dos tempos que virão de continuidade das eternas picuinhas da mídia contra o agora ex-presidente petista, fantasma que esses veículos de comunicação aliados ao PSDB e aos seus satélites partidários julgam que precisam exorcizar até 2014.
Como dissera Martins, a mídia “levanta a bola” e a oposição “corta”. Foi assim no caso da RENOVAÇÃO dos passaportes diplomáticos de familiares do ex-presidente Lula. A mídia inventou uma ilegalidade qualquer na medida do Itamaraty, em uma conduta hipócrita que será explicada mais adiante, construiu uma manchete propícia à “escandalização do nada” e a oposição já veio “cortando”, dando declarações difamantes contra o ex-presidente da República e sua família.
Em seguida, cumprindo o bom e velho script de guerra a Lula que vige desde 1989 na mídia, o indefectível Ophir Cavalcante, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, sempre disposto a oferecer teses “legais” para a dobradinha tucano-midiática, faz uma “ameaça” aos filhos de Lula, de que se não devolverem os passaportes diplomáticos que têm desde que o pai se tornou presidente pela primeira vez, em 2003, serão “denunciados”.
A principal tese da mídia é a de que o Itamaraty não poderia ter “concedido” – e o correto seria dizer “renovado” – o passaporte diplomático a Marcos Cláudio Lula da Silva, de 39 anos, e a Luiz Cláudio Lula da Silva, de 25 anos, porque são maiores de 21 anos e esta faixa etária seria o limite para concessão desse documento a que têm direito o ex-presidente da República e seus dependentes. Estes, contudo, só teriam esse direito até essa idade.
Só agora a mídia transformou em escândalo um fato que vigeu durante os oito anos do governo Lula. Por que não “denunciou” antes que ao menos o filho de 39 anos de Lula tem passaporte diplomático? Simples, porque está começando uma campanha difamatória contra o ex-presidente que fará a que se viu durante o seu mandato parecer uma prolongada declaração de amor.
O PSDB, por meio de Globos, Folhas, Vejas e Estadões, bem como dos seus babados, está se dedicando a transformar em escândalo uma prática que vige há muito tempo e que beneficia a um espectro amplo de pessoas, incluindo gente da oposição tucano-midiática, como revela boa matéria do jornal O Estado de São Paulo sobre o assunto.
A concessão de passaportes diplomáticos no Brasil, no entanto, é muito mais comum do que se pensa, tendo até uma página do Itamaraty na internet em que é possível obter as informações necessárias para a concessão de um documento que o Estado brasileiro concede a qualquer um que considere que deve recebê-lo, pois decreto da Casa Civil da Presidência da República dá à autoridade competente a prerrogativa de tomar tais decisões.
A questão de idade dos dependentes dos beneficiados por passaportes diplomáticos é, também, passível da subjetividade do ministro das Relações Exteriores, em última instância. Não é por outra razão que o Itamaraty oficializou, em maio do ano passado, a concessão de passaportes diplomáticos a parceiros gays de servidores que trabalham nas representações do Brasil no exterior, conforme matéria do portal R7 que pode ser lida aqui.
A mídia está usando a decisão de Marcos Cláudio Lula da Silva de devolver um passaporte que afirma que nunca usou como “prova” de que estaria se beneficiando de uma ilegalidade, da qual só abre mão por ter sido “denunciado”.  Será uma pena se Marcos fizer isso, pois, apesar da “ameaça” do tucanérrimo Ophir Cavalcante, não existe a menor possibilidade de um processo dessa natureza prosperar sem que venha a tona que há muito gato gordo do setor privado – inclusive da mídia – beneficiado por passaporte diplomático.
Na verdade, o passaporte diplomático não importa em qualquer ônus para a sociedade. Apenas dá regalias àqueles que o Ministério das Relações Exteriores considera que, por projeção social, política, econômica ou cultural, entre outras, devem ter.
As regalias são de trâmites mais rápidos e isentos de maiores constrangimentos nos setores de imigração de outros países. Os passaportes diplomáticos não geram custo de qualquer espécie para os cofres públicos. A concessão deles, historicamente comum no Brasil, só poderia ser questionada com chance de sucesso se um cidadão como qualquer outro o recebesse sem uma explicação tão boa quanto a de ser filho de um ex-presidente da República.
O PT e a presidente Dilma Rousseff cometerão o mesmo erro que cometeram no primeiro turno da campanha eleitoral do ano passado se acharem que podem adotar uma postura fleumática diante dos ataques da mídia confiando em que esses ataques não lhes reverterão em prejuízos políticos. Mas esse é assunto para um outro post, a ser publicado no momento certo

Tailândia censura filme sobre transexuais

'Insects in the backyard', dirigido por tailandês, foi considerado 'pornográfico'.
Produção fez sua estreia na última edição do Festival de Toronto.

Insects in the backyard 
Cena do filme "Insects in the backyard", de Tanwarin
Sukhapisit. (Foto: Divulgação)

A diretora do primeiro filme que denuncia a marginalização dos transexuais na Tailândia acaba de esbarrar na censura. "Insects in the backyard" foi proibido de ser exibido no país, julgado "pornográfico e imoral".
O longa-metragem, estreia de Tanwarin Sukhapisit e que ela mesma protagoniza, tem enredo baseado na sua própria história. Sukhapisit  é um pai solteiro com dois filhos adolescentes que se envergonham de sua escolha sexual e que se prostituem para fugir de casa.
O filme foi bem aceito pelo público quando exibido pela primeira vez em setembro, em Toronto e, depois do sucesso, foi lançado no Festival Internacional de Cinema de Bangcoc.
Quando Sukhapisit pediu em dezembro a permissão para projetar o filme nas salas comerciais, sua solicitação foi rejeitada sem nenhuma explicação. "Não me disseram nada, mas depois soube por amigos e pela imprensa que eles não gostaram de várias cenas", disse diretora, que nasceu 37 anos atrás no corpo de um homem, mas que desde muito jovem se sentia uma mulher.
Sukhapisit recorreu à sentença contra o Ministério da Cultura. O órgão se mostrou disposto a levantar o veto se a diretora cortar todas as sequências de sexo homossexual explícito, estudantes uniformizados exercendo a prostituição e o sonho do filho que assassina o pai.
A diretora recusou cortar qualquer parte da produção. Quem se arrisca a distribuir o filme poderá ser multado em até 1 milhão de bat (equivalente a US$ 33 mil), o dobro do orçamento.
Sukhapisit também não pode classificar o filme como proibido para menores de 18 anos porque todas as formas de pornografia são ilegais na Tailândia.
"Claro que há muitas cenas fortes, com violência e sexo, não só homossexual, mas garanto que não tem mais do que filmes de Hollywood e ele pode ser assistido por qualquer adulto", argumentou a diretora.
Na sua opinião, o comitê de censura presidido pelo primeiro-ministro tailandês, Abhisit Vejjajiva, "é como um dinossauro que não entende de cinema, acredita que todos os tailandeses são tão incultos como ele e por isso limita a liberdade".
 
Personagens cômicos e secundáriosSukhapisit se queixa que, em seu país, os transexuais são limitados a papéis cômicos secundários no cinema - que ela mesma interpretou em infinitas ocasiões - como reflexo de uma sociedade que garante ser tolerante, mas que na realidade continua sendo "profundamente conservadora".
"É uma atitude paternalista, porque as pessoas aceitam a cultura contemporânea mais do que seus próprios governantes. É triste que alguém com 18 anos esteja apto a votar nas eleições democráticas, mas não seja suficientemente maduro para ver meu filme", lamentou.
Também é algo contraditório que as mesmas autoridades que proibiram o filme a contratam para palestrar sobre cinema nas universidades, mesmo vestida de mulher.
"Há dez anos, jamais me sentiria à vontade de me vestir assim em público, mas pouco a pouco as coisas estão mudando e já não é um tabu para a maioria dos tailandeses", explica Sukhapisit.
A cineasta pertence a uma nova geração liderada por Apichatpong Weerasethakul, o diretor mais famoso da história da Tailândia após conquistar a Palma de Ouro de Melhor Diretor em Cannes em 2010.
O homossexual declarado Weerasethakul enfrentou a censura diversas vezes, e reprova que, enquanto isso, as autoridades financiam superproduções épicas com um fundo nacionalista.
A responsável por "Insects in the backyard", cujo título é uma metáfora sobre como os transexuais não são vistos como humanos e são excluídos pela sociedade, afirma que levará seu caso aos tribunais e não descansará até que se derrogue a lei "antidemocrática".

Fonte: G1

Apoio ao EZLN*, às comunidades zapatistas e a La Otra Campaña


No passado dia 1 de Janeiro começou a circular por vários meios de comunicação e agências de imprensa, entre elas a espanhola EFE, a caluniosa e suposta ligação do EZLN com o sequestro do político mexicano do Partido de Acção Nacional (PAN), Diego Fernández y Cevallos. Esta informação baseava-se num “comunicado” assinado por um tal Guerrero Balam no qual diz fornecer cinco sinais que suportariam esta afirmação, sinais como o facto de os textos presumivelmente enviados pelos sequestradores utilizarem palavras que aparecem em comunicados zapatistas e o facto de Fernández de Cevallos ter feito tudo o que esteve ao seu alcance, que foi muito, para impedir a aprovação da Lei Cocopa e, com isso, o cumprimento dos Acordos de Santo Andrés.
Implica, além disso, La Otra Campaña e mais directamente a Rede contra a Repressão e pela Solidariedade, com o argumento de que, buscando por esse nome na internet, aparecem comunicados do mesmo estilo.
Não é a primeira vez que alguns meios de comunicação se lançam em tentativas de desacreditar os zapatistas, quem sabe se para abrir caminho a um incremento das acções contra-insurgentes na zona. Por isso não surpreende o pouco rigor com que se encaram e se tratam algumas supostas notícias.
No entanto, não é a primeira tentativa, se bem que esta, tal como as anteriores, é tão grosseira que cai por si só; no passado mês de Março de 2010, o jornal Reforma publicou uma notícia, baseada também na informação de outro suposto zapatista, que revelava o rosto oculto do Subcomandante Marcos, tendo-se verificado ser o rosto, nunca oculto, de um italiano solidário que vive em Chiapas.
Essa informação ruiu pelo seu próprio peso, e agora tentam uma nova investida na esperança de que, desta vez, se acredite neles e isso sirva para facilitar uma nova escalada de agressões às comunidades zapatistas, ao mesmo tempo que se continua a criminalizar e a reprimir todo o tipo de protesto, de luta social e de inconformismo com as más e impunes práticas do governo mexicano, suas instituições e seus esbirros.
Daqui da Europa e dos espaços solidários e irmãos espalhados pelo mundo, queremos dizer aos companheiros e às companheiras zapatistas que o seu trabalho digno, duro e diário, incluindo o que já faziam antes desse 1 de Janeiro de 1994 que nos iluminou a todos, continua a animar-nos nas nossas vidas e luta comum, lá como cá, nos nossos diferentes países e por todo esse mundo que pretendemos construir, juntas e juntos, pelo que, sem dúvida, podem ficar seguros de que NÃO ESTÃO SOZINHOS.
Prestaremos especial atenção ao que possa acontecer nos próximos dias e semanas.
NÃO À MENTIRA, À MILITARIZAÇÃO, AOS PARAMILITARES, ÀS AGRESSÕES, À CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS, AO DESRESPEITO PELOS DIREITOS HUMANOS, AOS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS, AOS PRESOS DE CONSCIÊNCIA, AOS ASSASSINATOS, À IMPUNIDADE E, POR FIM, AO TERRORISMO DE ESTADO NO MÉXICO !!
JÁ CHEGA !
VIVAM AS COMUNIDADES ZAPATISTAS!
VIVA O EZLN!
VIVA LA OTRA CAMPAÑA!
PRESOS POLÍTICOS, LIBERTAÇÃO!
Assinam:
Cedoz
Grupo IRU
Colectivo ALANA

EZLN - Exército Zapatista de Libertação Nacional - México

Ministro admite derrota antes do jogo

Por Mauro Malin no Observatório da Imprensa
A discussão sobre concessões de rádio e televisão pertencentes a parlamentares, antiga neste Observatório (ver "Ministério Público propõe anulação de concessões"), voltou à tona com a entrevista do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que foi manchete na Folha de S.Paulo de sexta-feira (7/1). Ele disse à repórter Elvira Lobato que "político não deve ganhar TV e rádio", mas opinou também que essa proibição ‒ fixada no texto da Constituição de 1988 e reiterada na legislação deixada pelo governo Lula para o atual governo levar ao Congresso ‒ tem poucas possibilidades de aprovação devido ao elevado número de políticos eleitos em 2010 para o parlamento federal que declararam ter concessões (ver aqui e aqui, entrevistas do ministro à Folha e ao Estado de S.Paulo).
Para que se entenda por que conceder emissoras de rádio e televisão a parlamentares contraria a Carta desde sua promulgação, há quase 22 anos, vale citar o que escreveu neste OI Venício A. de Lima, em agosto de 2005, no artigo "As bases do novo coronelismo eletrônico":
"A Constituição de 1988 [....] proibiu que deputados e senadores mantenham contrato ou exerçam cargos, função ou emprego remunerado em empresas concessionárias de serviço público (letras a. e b. do item I do Artigo 54). Restrição semelhante já existia no Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT, Lei nº 4117/62) desde 1962, determinando que aquele que estiver em gozo de imunidade parlamentar não pode exercer a função de diretor ou gerente de empresa concessionária de rádio ou televisão (Parágrafo único do Artigo 38)." O próprio Paulo Bernardo foi exato em sua argumentação. À pergunta "Por que político não deve ter concessão?", ele respondeu:
"É o Congresso que autoriza as concessões. Então, me parece claro que o congressista não pode ter concessão, para não legislar em causa própria. Os políticos já têm espaço garantido na televisão, nos programas eleitorais. E há também a vantagem nas disputas eleitorais, e o poder político e econômico." Quem são os 61 parlamentares?
Paulo Bernardo informou que 61 parlamentares federais declararam ser detentores de concessões. Desde logo, fica aqui a sugestão de que se divulgue imediatamente essa lista, para que os cidadãos possam formar opinião sobre o quadro atual. A esse número deve ser somado o de senadores em meio de mandato concessionários de rádio e/ou televisão, caso notório do presidente da Casa, José Sarney.
Segundo Bernardo, "é mais fácil iniciar um processo de impeachment de um presidente do que rejeitar a renovação de uma concessão de rádio ou de TV". A dificuldade é ainda maior, acrescente-se para argumentar, levando-se em conta que também foram eleitos muitos deputados estaduais donos de emissoras, para não falar de vereadores em meio de mandato. O texto constitucional não menciona esses detentores de mandatos, mas se deduz que eles também seriam atingidos por uma nova regulamentação, para que o jogo não fique desequilibrado exatamente nos locais em que se dão os embates eleitorais.
Em outras palavras, não tem sentido proibir que um deputado federal seja dono de emissora e permitir que, na mesma região em que ele disputa votos, um deputado estadual, eventualmente aliado de um candidato rival, o seja. O mesmo se diga da relação entre deputado estadual e vereador.

Uma maioria sem emissoras

Por outro lado, se 61 parlamentares eleitos agora declaram ser donos de emissoras, há 506 que não o são (foram eleitos 513 deputados federais e 54 senadores). Não seria possível encontrar nessa massa um grupo majoritário a favor da modernização do panorama brasileiro de radiodifusão?
Não há notícia de parlamentares petistas donos de emissoras de rádio e televisão, o que, do ponto de vista da "economia doméstica", facilita a vida do ministro e da presidente Dilma Rousseff. O PT terá a partir de fevereiro a maior bancada na Câmara dos Deputados.

Munição para adversários

Provavelmente o ministro tem razão quanto à dificuldade de revogar concessões, mas o que está no horizonte não é o exame de casos individuais, e sim a consagração de uma regra sintonizada com o texto e o espírito da Constituição. Antes dela, a outorga de canais era feita pelo Executivo. Desde 1988, cabe ao Legislativo aprová-la. Foi um avanço na concepção, sem correspondência na prática, porque muitos dos outorgantes são outorgados. Talvez se possa chegar a uma solução em que a proibição seja estabelecida, mas para vigorar a partir de data futura. Ou seja, dando-se uma moratória aos atuais políticos que têm emissoras.
O reparo que se pode fazer à sincera entrevista de Paulo Bernardo é que ela sinaliza uma acomodação ao statu quo. E, com isso, enfraquece politicamente a ação do governo. Qualquer parlamentar poderá argumentar, coberto de razão, que o próprio ministro das Comunicações reconheceu que o assunto é no mínimo delicado.

As afiliadas, as afiliadas...

Não é só no Congresso Nacional que há dificuldade para combater o coronelismo eletrônico. Na sexta-feira (7/1) em que Paulo Bernardo foi manchete da Folha, o Jornal Nacional não tugiu nem mugiu sobre o assunto. Que diferença em relação à véspera, quando, como notou Alberto Dines no tópico "Pauta perversa", o JN repercutiu "em grande estilo" a manchete jornalisticamente implausível (nos dois sentidos, principalmente o etimológico) da mesma Folha sobre os passaportes dos filhos de Lula, esse tema de grande magnitude política e relevância social.
Dessa vez, a manchete da Folha não mereceu nem a chamada "nota ao vivo", sem imagens. Gosto não se discute, apenas se lamenta? Não é bem assim.
O Jornal da Cultura da mesma noite fez uma boa reportagem sobre o assunto. Lembrou que, além do já citado Sarney, o também senador Fernando Collor é sócio de uma rede de comunicação em Alagoas, o deputado ACM Neto é sócio da Rede Bahia, o deputado Jorginho Maluly é dono de uma rede no interior paulista. Entre tantos outros eminentes representantes do povo.
A Globo nunca tocou nesse assunto. E não está sozinha em seu silêncio. Essas emissoras e redes locais são... afiliadas das grandes redes. Trata-se de uma mistura de política com o negócio da comunicação. E vice-versa: o negócio da comunicação vai incomodar políticos que são seus parceiros? Sem chance. Ou seja, se depender da mais poderosa mídia do país, a televisão, o povo, salvo o traço de audiência da TV Cultura, não vai nem saber que o problema existe.